Seminário
3: Reações à gravidez
Autor: João Maximiano
Escola de medicina UNIFENAS-BH
Introdução
As
mudanças maternas que ocorrem durante a gravidez englobam mudanças
fisiológicas, bioquímicas e anatômicas. As mudanças ocorrem devido a: 1) presença
do concepto em crescimento, 2) sobrecarga hormonal placentária, 3) ação mecânica
devido ao aumento uterino, 4) preparo do corpo para o parto e lactação.
Modificações sistêmicas
a)
Sistema
cardiovascular
·
Adaptações
anatômicas cardíacas: 1) aumento da massa muscular dos
ventrículos com aumento do volume diastólico final, 2) aumento da força
contrátil do músculo, 3) aumento do diâmetro do átrio direito com pico na 30°
semana gestacional, 4)o coração assume uma posição mais transversal devido à
elevação do diafragma essa alteração pode refletir no eletrocardiograma, que
mostra desvio do eixo elétrico cardíaco para a esquerda.
·
Adaptações
funcionais do coração: 1) o débito cardíaco aumenta de 30 a
50% durante a gravidez e metade deste acréscimo ocorre próximo a 8° semana, 2)
distensão do átrio direito e do nó sinusal causam um aumento reflexo da frequência
cardíaca, um adicional de 15 a 20 bpm pode ser notado na 32° semana.
·
Redistribuição
de fluxo: na gravidez há seleção de fluxo preferencial ao útero,
mamas, rins e pele.
Ø Posição da grávida: quando
a grávida se encontra em decúbito dorsal pode ocorrer uma compressão da VCI.
Quando a gestante, muda bruscamente desta posição para a posição de decúbito
lateral pode ocorrer uma queda na pressão levando até mesmo à sincope.
·
Pressão
arterial sistêmica: declina durante a gestação pois há uma queda
na pressão arterial diastólica (PAD). |Retorna aos valores normais após o
parto. A pressão de pulso aumenta na gravidez devido a diferença grande entre PAD e PAS.
a)
Sistema
sanguíneo
·
Plasma
e sangue: o volume sanguíneo aumento na gravidez com intuito de
ofertar nutrientes e oxigênio ao feto. Ocorre um aumento maior de plasma do que
de elementos figurados o que pode gerar um quadro de anemia fisiológica devida
a hemodiluição. O incremento de volume sanguíneo é de aproximadamente 45% do
volume preexistente. O aumento do volume plasmático é precedido de
vasodilatação periférica e aumento do débito cardíaco. No endotélio vascular
interagem prostaglandinas e óxido nítrico.
b)
Eritrócitos
e hemoglobina: a massa eritrocitária aumenta 20 a 30% sem
alterar o tempo de vida das hemácias. O lactogênio placentário, a progesterona
e a prolactina, estimulam a eritropoiese. Há hiperplasia da medula óssea no
terceiro trimestre.
c)
Leucócitos
e sistema imunológico: os leucócitos encontram-se elevados na
gestação, parto e até o 6° dia de puerpério com predominância de neutrófilos e
linfócitos CD8. Há queda na função leucocitária de quimiotaxia, aderência
endotelial, ativação de neutrófilos, além de queda nos linfócitos T-helper,
T-citotócito e alfa-interferon. Algumas doenças imunes melhoram na gravidez e
parece haver uma maior susceptibilidade a infecções. O muco cervical apresenta
atividade imunológica protetora ao feto. Há aumento de IgA e IgG, IL-B
induzidos por estrogênio e progesterona.
d)
Sistema
de coagulação: fatores pró-coagulantes estão aumentados e
fatores fibrinolíticos estão reduzidos. A placenta é considerável local de
consumo de fibrina, agindo como um “filtro”, explicando a baixa ocorrência de
fenômenos tromboembólicos nas gestações normais. A vulnerabilidade à coagulação intravascular está aumentada,
consequentemente à tendência de estase venosa na pelve e nas pernas,
principalmente na presença de varizes. Após o parto, a retirada da placenta
permite a coagulação do sítio placentário, mas o sistema de coagulação
pró-ativado pode levar à ocorrência de complicações tromboembólicas.
Recomendações a gestante:
ü Evitar
longos períodos de imobilidade dos membros inferiores
ü Usar
meia elástica de leve compressão
ü Deambulação
precoce no puerpério
a)
Plaquetas:
diminuem
por hemodiluição e por uso, o que justifica o encontro de plaquetas gigantes ou
jovens no sangue periférico. Os valores de referência estão entre 150000 a
400000/µL, na maioria das gestantes.
Sistema respiratório
O
volume ventilatório corrente aumenta 40% durante a gravidez, levando a
hiperventilação e hipocapnia (estado de CO2 reduzido no sangue).
Este aumento da ventilação é provocado por: 1) aumento do metabolismo basal, 2)
secreção de progesterona.
A
frequência respiratória não muda na gravidez.
Devido
a compressão do diafragma pelo aumento uterino, ocorre uma diminuição da reserva
pulmonar cm possível sensação de dispneia.
A
hiperventilação elevam os níveis de O2 em até 40% e faz cair a pCO2
ao longo da gravidez. Para manter os níveis ácido-base normais os rins excretam
HCO3- e reabsorvem H+. No entanto, instala-se
uma pequena alcalose em relação ao pH do feto, que favorece o aumento da
afinidade da Hb fetal pelo O2 (efeito Bohr).
Sistema urinário
Os
rins aumentam em tamanho e peso pelo acréscimo de parênquima e do fluxo
sanguíneo. O fluxo renal e o ritmo de filtração glomerular (RFG) elevam-se,
acompanhando a vasodilatação, o aumento do fluxo plasmático e o débito
cardíaco.
Somente
5% da glicose filtrada é reabsorvida o que pode levar à glicosúria no gravidez.
Ocorre
diminuição da concentração plasmática de ácido úrico. A concentração de
proteínas na urina ao deve exceder 300mg em 24 horas.
·
Água
e sódio: até o final da gravidez, o organismo materno receberá um
acréscimo de no mínimo 6,5 litros de água. 3,5 litros distribuem-se entre feto,
placenta e líquido amniótico. Outros 3 L estão nas células do sangue, plasma,
no espaço extravascular, nas mamas e no útero. O sódio acompanha o movimento da
água nos túbulos renais.
·
Potássio: há
um incremento de 300 a 350 mEq de potássio durante a gravidez. Apesar da ação
excretora da aldosterona, a kaliuerese é prevenida pela ação da progesterona.
Postura e deambulação
O
centro de gravidade da gestante é desviado para frente devido a: 1) expansão do
útero com seu apoio sobre a parede abdominal, 2) aumento das mamas.
Esse
deslocamento leva há uma progressiva lordose lombar e mudança no eixo da pelve.
As escápulas projetam-se para trás e a coluna cervical encurva-se, flexionando
discretamente o pescoço. Devido a tração dos nervos ulnar e mediano pode haver
as seguintes queixas: 1) dormências, 2) acroparestesias e 3) fraqueza nas
extremidades superiores.
·
Marcha
anserina: andar oscilante com passos curtos e lentos.
Direitos autorais da Universidade Nilton Lins - Manaus/AM
Articulações
Ocorre,
principalmente, relaxamento das articulações ósseas relacionadas a pelve com
intuito de adaptar ao crescimento uterino. As mudanças estão relacionadas a:
ü Ação
mioestabilizante da progesterona
ü Aumento
dos níveis séricos de estrogênio
ü Ação
da relaxina sobre a musculatura articular,
A
regressão das alterações articulares inicia-se no pós parto e pode durar até 3
a 5 meses.
Pele e tecido subcutâneo
Ocorre
deposição de melanina na epiderme e nos macrófagos da derme. Frequentemente a
face apresenta manchas escuras e irregulares, chamadas cloasma ou melasma
gravídico. A linha Alba adquire uma coloração escura transformando-se em linha
nigra. Também podem pigmentar-se:
ü Aréolas
mamárias,
ü Pescoço
ü Axilas
ü Vulva
ü Parte
interna das coxas
A
luz ultravioleta exarceba o cloasma, sendo recomendado evitar exposição prolongada
ao sol.
No
ultimo trimestre metade das gestantes são acometidas pelas estrias gravídicas
na epiderme do abdome, mamas, nádegas e parte lateral das coxas.
Hipertricose
é comum na gestação.
Hipertrofia
e hiperfunção das glândulas sudoríparas e sebáceas, promovem transpiração
abundante.
Mamas
Aumento
da sensibilidade das mamas. Crescimento rápido. A progesterona age sobre o
crescimento alveolar e os estrogênios sobre o sistema ductal. Outros hormônios
como o lactogênio placentário, cortisol, GH e insulina atuam sobre a mama
potencializando seu crescimento.
UNIFENAS RESUMIDA
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