sexta-feira, 8 de junho de 2012

GT3: ALIMENTAÇÃO PRIMEIRO ANO

GT3: alimentação nos primeiros anos de vida

Autor João Maximiano

Escola de ciências médicas UNIFENAS-BH


Introdução

Entende-se por nutrição o processo pelo qual os seres-vivos recebem e utilizam os nutrientes para: 1) manutenção da vida, 2) crescimento, 3) funcionamento normal dos órgãos e 4) produção de energia.
O indivíduo recebe os nutrientes por intermédio dos alimentos, que devem conter:
·         Proteínas
·         Gorduras
·         Carboidratos
·         Vitaminas
·         Minerais
·         Elementos traços
·         Água
Características importantes do RN a termo:
·         Possui capacidade reflexa de sucção e de deglutição coordenadas com a respiração.
·         Paladar presente com resposta positiva à substâncias doces e negativa à substâncias salgadas.
·         A mastigação inicia-se no quinto mês de vida favorecendo o uso de colher.
·         Nas duas primeiras semanas de vida a capacidade gástrica é limitada, porém aumenta de forma significativa após este período atingindo até 200ml ao final de 12 meses, permitindo ingestão de até 180ml/Kg/dia em lactentes com mais de 1 ano.
·         O esvaziamento gástrico torna-se mais eficiente após algumas horas do nascimento com tempo médio de esvaziamento de 1 a 3 horas.
·         Devido à baixa tonicidade do esfíncter esofágico inferior é comum a ocorrência de refluxo e/ou regurgitação nas primeiras semanas de vida. Após a sexta ou sétima semana de vida essa situação deve regularizar-se. O chamado refluxo fisiológico pode ser acentuado pela oferta de refeições volumosas e/ou concentradas.
·         A mucosa intestinal do RN e do lactente pequeno é imatura, o que os torna susceptíveis à absorção de moléculas proteicas íntegras, tais como proteínas estranhas, bactérias e toxinas aumentando o risco de reações alérgicas, de má absorção e de infecções.
·         A capacidade digestiva e absortiva do RN e no lactente menor são limitadas.
·         A digestão da caseína torna-se eficiente por volta de 3 a 4 meses.
·         A produção de lípase pancreática é diminuída o que faz com que a digestão e absorção de gorduras no RN e no lactente pequeno sejam exclusivamente gástricas.
·         A utilização de leite de vaca nos primeiros meses de vida acarreta em uma perda maior de gordura do que se utilizado leite materno.
·         A absorção de carboidratos simples é adequada desde os primeiros dias de vida. Os carboidratos complexos, no entanto, tem absorção comprometida pela baixa produção de amilase pancreática e saliva. Estas enzimas terão sua produção aumentada a partir dos 4 a 6 meses de vida atingindo quantidades do adulto aos 12 meses de vida.
·         O lactente absorve vitaminas de forma adequada sendo necessária determinada quantidade de lipídeos para a absorção das lipossolúveis.
Para o adulto considera-se que 10 a 15% das calorias de uma dieta devem provir de proteínas, 30% das gorduras, 50 a 55 %, dos carboidratos. Para as crianças, entretanto, as recomendações mais atuais têm mantido a relação de, pelo menos, 50% das calorias originárias do lípides para lactentes.



Água – necessidades médias em condições normais
Idade
Água/Kg/dia em ml
3 dias
80-100
10 dias
125-150
3 meses
140-160
6 meses
130-155
1 ano
120-135
2 anos
115-125
4 anos
100-110
10 anos
70-85
18 anos
40-50


Quotas diárias recomendadas de energia e proteínas
Idade
Energia (Kcal/Kg/dia)
Total aproximado
Proteínas (g)
0-6 meses
110
650
2,2 g/Kg
6-12 meses
100
850
2g/Kg
1-3 anos
100
1300
16
4-6 anos
90
1800
24


Alimentação complementar
·         Quando iniciar

Tanto a OMS como o Ministério da Saúde recomendam a implantação da alimentação complementar apenas após 6 meses de vida. A implantação anterior a este período deve ser analisada caso a caso e deve ser repudiada anterior aos 4 meses de vida, uma vez que, os malefícios ultrapassam os benefícios. Crianças alimentadas por amamentação exclusiva nos 6 primeiros meses de vida apresentam uma diminuição normal no índice peso/idade sendo que, a introdução de alimentos complementares antes dos 6 meses não contribui na frenagem deste índice como pode induzir infecções graves com possibilidade de óbito.
Uma possível perda de peso da criança pode também estar atribuída à pega incorreta no momento da mamada, o que comumente priva a criança do leite posterior rico em gordura. Neste caso, orientação sobre a pega correta deve ser feita pelos profissionais da saúde.

·         Densidade energética

Por densidade energética, entende-se o número de calorias por unidade de volume ou peso do alimento. É de extrema importância o conhecimento da densidade energética dos alimentos e das dietas para as recomendações da ingestão de energia dos indivíduos, de acordo com as suas necessidades.
As estimativas da energia necessária proveniente dos alimentos complementares, segundo diversos estudos, são diferentes para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ela depende do volume e da densidade energética do leite materno que a criança consome. Sabe-se que o conteúdo energético do leite humano varia entre as mulheres e entre populações. Em países em desenvolvimento, ela varia de 0,53 a 0,70kcal /g, enquanto que nos países industrializados essa variação é de 0,60 a 0,83kcal/g.
Após o sexto mês de vida, a energia proveniente apenas do leite materno não supre mais as necessidades energéticas das crianças, sendo, portanto, essencial complementar o aporte de energia através de alimentos complementares apropriados, com uma densidade mínima de 70 Kcal/100ml para evitar o déficit de energia. Preparações que não atinjam esta concentração energética mínima tais como sopas e mingaus e leites muito diluídos, devem ser desaconselhadas.



·         Conteúdo proteico

A densidade proteica de alimentos complementares recomendada é de 0,7g/100Kcal dos 6 aos 24 meses. Além da quantidade das proteínas da dieta, são importantes a sua qualidade e digestibilidade. As proteínas de alto valor biológico e de melhor digestibilidade são encontradas em primeiro lugar no leite humano e depois nos produtos de origem animal (carne, leites, ovos). A dieta à base de vegetais também pode fornecer proteínas de alta qualidade, desde que contenha quantidade suficiente e combinação apropriada de vegetais. A mistura de arroz com feijão, por exemplo, fornece proteínas de excelente qualidade, comparável com as da carne.

Grupos de alimentos proteicos

Alto valor biológico
Médio valor biológico
Baixo valor biológico
Carne de boi e derivados
Feijão
Gelatina
Carne de porco e derivados
Soja
Vegetais em geral
Carne de frango e derivados
Vagem
XXXXXXXXXXXXXXXX
Peixe e derivados
Lentilha
XXXXXXXXXXXXXXXX
Leite e derivados
Grão-de-bico
XXXXXXXXXXXXXXXX
Ovo
XXXXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXXXXX

·         Conteúdo de ferro

O ferro é um micronutriente muito importante na dieta da criança pequena. A sua deficiência está associada com anemia ferropriva, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e, diminuição das defesas do organismo e da capacidade intelectual e motora. Alguns efeitos da anemia por deficiência de ferro podem ser irreversíveis. O papel do ferro na deficiência do crescimento ainda não está bem estabelecido. Estudos têm demonstrado o efeito positivo da suplementação de ferro no ganho de peso e de comprimento.
O leite materno quando oferecido exclusivamente, apesar de ter um conteúdo baixo de ferro, supre as necessidades desse micronutriente no lactente nascido a termo nos primeiros seis meses de vida. Após esse período, vários estudos confirmam um balanço negativo de ferro em crianças que continuaram sendo amamentadas exclusivamente havendo a necessidade complementação de ferro através de alimentos complementares ricos nesse micronutriente.
A absorção de ferro é influenciada pela presença de outros alimentos. Assim, o ferro de origem vegetal é melhor absorvido na presença de carnes, peixes, frutose e ácido ascórbico, enquanto que é menos absorvido quando ingerido com gema de ovo, leite, chá, mate ou café. Portanto, para melhorar o aproveitamento do ferro do alimento complementar, é válido recomendar a adição de carne bovina, peixe ou ave nas dietas, mesmo que seja em pequena quantidade e a oferta, logo após as refeições, de frutas cítricas ou sucos com alto teor de ácido ascórbico.
Caso necessário deve-se utilizar ferro medicamentos ou usar formulas enriquecidas, se possível manter até dois anos de idade. Prematuros e recém-nascidos devem receber ferro suplementar após 30 dias de vida, mesmo em aleitamento materno.



·         Frequência das refeições com alimentos complementares

A frequência varia conforme a densidade energética dos alimentos da dieta. A criança pequena, em aleitamento materno exclusivo em livre demanda, já muito cedo, desenvolve a capacidade de autocontrole sobre a ingestão de alimentos, distinguindo as sensações de fome e de saciedade. Fatores culturais e a socialização limitam o controle da criança sobre a frequência da alimentação. A OMS e o Ministério da Saúde recomendam três refeições/dia para os amamentados e cinco refeições/dia para os que não recebem leite.
Alimentos que não devem ser oferecidos aos lactentes:
Ø  Refrigerantes
Ø  Produtos industrializados e/ou com conservantes
Ø  Produtos com corantes artificiais
Ø  Embutidos e/ou enlatados
Ø  Doces industrializados
Ø  Café
Ø  Chás
Ø  Frituras
Ø  Alimentos muito salgados e/ou adocicados,

Dez passos da alimentação saudável em crianças menores de dois anos

PASSO 1 – Dar somente leite materno até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.
PASSO 2 – A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais.
PASSO 3 – A partir dos seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.
PASSO 4 – A alimentação complementar deve ser oferecida sem rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
PASSO 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; começar com consistência pastosa (papas / purês), e gradativamente aumentar a sua consistência até chegar à alimentação da família.
PASSO 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida.
PASSO 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições.
PASSO 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação.
PASSO 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados.
PASSO 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação.

Alimentação no primeiro ano de vida na ausência ou insuficiência de leite humano

Frente à absoluta impossibilidade de amamentar a criança ao sei, é necessária a introdução de outro leite e habitualmente o leite de vaca é indicado. Para minimizar as enormes diferenças em relação ao leite humano e tentar ajustá-lo às necessidades nutricionais do lactente, o leite de vaca deve ser modificado. Nesse sentido as formulas infantis são as mais indicadas.
São elaboradas, em geral , a partir do leite de vaca, do leite de outros animais ou de constituintes proteicos de origem variada – em geral, da soja.

Formula
Descrição
Fórmula de partida
Destina-se a alimentação do lactente até 6 meses, sob prescrição do médico ou nutricionista.
Formula sequencial
Destinam-se ao lactente maior de 6 meses
Formulas infantis para necessidades dietoterápicas
Modificações especiais com intuito de atender necessidades específicas, permanentes ou temporárias, fisiológicas ou patológicas como, por exemplo, formula para alergia à proteína do leite de vaca ou para intolerância à lactose
 Formula infantil de seguimento para crianças na primeira infância
Indicada para crianças de 1 a 3 anos de idade.
Leite
Leite de vaca in natura pode ser ou não modificado mediante fortificação ou redução de nutrientes, objetivando-se benefícios na saúde.

No caso de utilizar-se leite de vaca pasteurizado deve diluí-lo a 2/3 (10%, se em pó) apenas nos primeiros dois meses de vida e, a partir daí, deve ser integral (15%, se em pó). Deve-se adicionar açúcar em concentrações de 3-5% e a adição de farinha nos primeiros três meses de vida deve ser considerada se houver ganho insuficiente de peso. Nesse caso podem ser utilizados cozimentos ou mesmo cereais industrializados, observando-se se a digestão é satisfatória.
A partir do 4° mês deve-se iniciar com papas de frutas e papas de legumes.

UNIFENAS RESUMIDA







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