GT3:
alimentação nos primeiros anos de vida
Autor João Maximiano
Escola de ciências médicas UNIFENAS-BH
Introdução
Entende-se
por nutrição o processo pelo qual os seres-vivos recebem e utilizam os
nutrientes para: 1) manutenção da vida, 2) crescimento, 3) funcionamento normal
dos órgãos e 4) produção de energia.
O
indivíduo recebe os nutrientes por intermédio dos alimentos, que devem conter:
·
Proteínas
·
Gorduras
·
Carboidratos
·
Vitaminas
·
Minerais
·
Elementos traços
·
Água
Características importantes do RN a
termo:
·
Possui capacidade reflexa de sucção e de
deglutição coordenadas com a respiração.
·
Paladar presente com resposta positiva à
substâncias doces e negativa à substâncias salgadas.
·
A mastigação inicia-se no quinto mês de vida
favorecendo o uso de colher.
·
Nas duas primeiras semanas de vida a
capacidade gástrica é limitada, porém aumenta de forma significativa após este
período atingindo até 200ml ao final de 12 meses, permitindo ingestão de até
180ml/Kg/dia em lactentes com mais de 1 ano.
·
O esvaziamento gástrico torna-se mais
eficiente após algumas horas do nascimento com tempo médio de esvaziamento de 1
a 3 horas.
·
Devido à baixa tonicidade do esfíncter esofágico
inferior é comum a ocorrência de refluxo e/ou regurgitação nas primeiras
semanas de vida. Após a sexta ou sétima semana de vida essa situação deve
regularizar-se. O chamado refluxo fisiológico pode ser acentuado pela oferta de
refeições volumosas e/ou concentradas.
·
A mucosa intestinal do RN e do lactente
pequeno é imatura, o que os torna susceptíveis à absorção de moléculas
proteicas íntegras, tais como proteínas estranhas, bactérias e toxinas
aumentando o risco de reações alérgicas, de má absorção e de infecções.
·
A capacidade digestiva e absortiva do RN e no
lactente menor são limitadas.
·
A digestão da caseína torna-se eficiente por
volta de 3 a 4 meses.
·
A produção de lípase pancreática é diminuída
o que faz com que a digestão e absorção de gorduras no RN e no lactente pequeno
sejam exclusivamente gástricas.
·
A utilização de leite de vaca nos primeiros
meses de vida acarreta em uma perda maior de gordura do que se utilizado leite
materno.
·
A absorção de carboidratos simples é adequada
desde os primeiros dias de vida. Os carboidratos complexos, no entanto, tem absorção
comprometida pela baixa produção de amilase pancreática e saliva. Estas enzimas
terão sua produção aumentada a partir dos 4 a 6 meses de vida atingindo
quantidades do adulto aos 12 meses de vida.
·
O lactente absorve vitaminas de forma
adequada sendo necessária determinada quantidade de lipídeos para a absorção das
lipossolúveis.
Para
o adulto considera-se que 10 a 15% das calorias de uma dieta devem provir de
proteínas, 30% das gorduras, 50 a 55 %, dos carboidratos. Para as crianças,
entretanto, as recomendações mais atuais têm mantido a relação de, pelo menos,
50% das calorias originárias do lípides para lactentes.
Água – necessidades médias em condições
normais
Idade
|
Água/Kg/dia em ml
|
3 dias
|
80-100
|
10 dias
|
125-150
|
3 meses
|
140-160
|
6 meses
|
130-155
|
1 ano
|
120-135
|
2 anos
|
115-125
|
4 anos
|
100-110
|
10 anos
|
70-85
|
18 anos
|
40-50
|
Quotas
diárias recomendadas de energia e proteínas
Idade
|
Energia (Kcal/Kg/dia)
|
Total aproximado
|
Proteínas (g)
|
0-6 meses
|
110
|
650
|
2,2 g/Kg
|
6-12 meses
|
100
|
850
|
2g/Kg
|
1-3 anos
|
100
|
1300
|
16
|
4-6 anos
|
90
|
1800
|
24
|
Alimentação
complementar
·
Quando
iniciar
Tanto
a OMS como o Ministério da Saúde recomendam a implantação da alimentação
complementar apenas após 6 meses de vida. A implantação anterior a este período
deve ser analisada caso a caso e deve ser repudiada anterior aos 4 meses de
vida, uma vez que, os malefícios ultrapassam os benefícios. Crianças alimentadas
por amamentação exclusiva nos 6 primeiros meses de vida apresentam uma
diminuição normal no índice peso/idade sendo que, a introdução de alimentos complementares
antes dos 6 meses não contribui na frenagem deste índice como pode induzir
infecções graves com possibilidade de óbito.
Uma
possível perda de peso da criança pode também estar atribuída à pega incorreta
no momento da mamada, o que comumente priva a criança do leite posterior rico
em gordura. Neste caso, orientação sobre a pega correta deve ser feita pelos
profissionais da saúde.
·
Densidade
energética
Por densidade energética, entende-se o número
de calorias por unidade de volume ou peso do alimento. É de extrema importância
o conhecimento da densidade energética dos alimentos e das dietas para as recomendações
da ingestão de energia dos indivíduos, de acordo com as suas necessidades.
As estimativas da energia necessária
proveniente dos alimentos complementares, segundo diversos estudos, são
diferentes para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Ela depende do
volume e da densidade energética do leite materno que a criança consome.
Sabe-se que o conteúdo energético do leite humano varia entre as mulheres e
entre populações. Em países em desenvolvimento, ela varia de 0,53 a 0,70kcal /g, enquanto que nos
países industrializados essa variação é de 0,60 a 0,83kcal/g.
Após o sexto mês de vida, a
energia proveniente apenas do leite materno não supre mais as necessidades
energéticas das crianças, sendo, portanto, essencial complementar o aporte de
energia através de alimentos complementares apropriados, com uma densidade
mínima de 70 Kcal/100ml para evitar
o déficit de energia. Preparações que não atinjam esta concentração energética mínima
tais como sopas e mingaus e leites muito diluídos, devem ser desaconselhadas.
·
Conteúdo
proteico
A densidade proteica de
alimentos complementares recomendada é de 0,7g/100Kcal dos 6 aos 24 meses. Além
da quantidade das proteínas da dieta, são importantes a sua qualidade e
digestibilidade. As proteínas de alto valor biológico e de melhor digestibilidade
são encontradas em primeiro lugar no leite humano e depois nos produtos de
origem animal (carne, leites, ovos). A dieta à base de vegetais também pode
fornecer proteínas de alta qualidade, desde que contenha quantidade suficiente
e combinação apropriada de vegetais. A mistura de arroz com feijão, por
exemplo, fornece proteínas de excelente qualidade, comparável com as da carne.
Grupos de alimentos
proteicos
Alto valor biológico
|
Médio valor biológico
|
Baixo valor biológico
|
Carne de boi e derivados
|
Feijão
|
Gelatina
|
Carne de porco e derivados
|
Soja
|
Vegetais
em geral
|
Carne de frango e derivados
|
Vagem
|
XXXXXXXXXXXXXXXX
|
Peixe e derivados
|
Lentilha
|
XXXXXXXXXXXXXXXX
|
Leite e derivados
|
Grão-de-bico
|
XXXXXXXXXXXXXXXX
|
Ovo
|
XXXXXXXXXXXXX
|
XXXXXXXXXXXXXXXX
|
·
Conteúdo
de ferro
O ferro é um micronutriente
muito importante na dieta da criança pequena. A sua deficiência está associada
com anemia ferropriva, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e, diminuição
das defesas do organismo e da capacidade intelectual e motora. Alguns efeitos
da anemia por deficiência de ferro podem ser irreversíveis. O papel do ferro na
deficiência do crescimento ainda não está bem estabelecido. Estudos têm
demonstrado o efeito positivo da suplementação de ferro no ganho de peso e de
comprimento.
O leite materno quando
oferecido exclusivamente, apesar de ter um conteúdo baixo de ferro, supre as
necessidades desse micronutriente no lactente nascido a termo nos primeiros
seis meses de vida. Após esse período, vários estudos confirmam um balanço
negativo de ferro em crianças que continuaram sendo amamentadas exclusivamente havendo
a necessidade complementação de ferro através de alimentos complementares ricos
nesse micronutriente.
A absorção de ferro é influenciada
pela presença de outros alimentos. Assim, o ferro de origem vegetal é melhor
absorvido na presença de carnes, peixes, frutose e ácido ascórbico, enquanto
que é menos absorvido quando ingerido com gema de ovo, leite, chá, mate ou
café. Portanto, para melhorar o aproveitamento do ferro do alimento
complementar, é válido recomendar a adição de carne bovina, peixe ou ave nas
dietas, mesmo que seja em pequena quantidade e a oferta, logo após as
refeições, de frutas cítricas ou sucos com alto teor de ácido ascórbico.
Caso necessário deve-se
utilizar ferro medicamentos ou usar formulas enriquecidas, se possível manter
até dois anos de idade. Prematuros e recém-nascidos devem receber ferro
suplementar após 30 dias de vida, mesmo em aleitamento materno.
·
Frequência
das refeições com alimentos complementares
A frequência varia conforme
a densidade energética dos alimentos da dieta. A criança pequena, em
aleitamento materno exclusivo em livre demanda, já muito cedo, desenvolve a
capacidade de autocontrole sobre a ingestão de alimentos, distinguindo as
sensações de fome e de saciedade. Fatores culturais e a socialização limitam o controle
da criança sobre a frequência da alimentação. A OMS e o Ministério da Saúde
recomendam três refeições/dia para os amamentados e cinco refeições/dia para os
que não recebem leite.
Alimentos que não devem ser oferecidos
aos lactentes:
Ø Refrigerantes
Ø Produtos
industrializados e/ou com conservantes
Ø Produtos
com corantes artificiais
Ø Embutidos
e/ou enlatados
Ø Doces
industrializados
Ø Café
Ø Chás
Ø Frituras
Ø Alimentos
muito salgados e/ou adocicados,
Dez passos da alimentação saudável em
crianças menores de dois anos
PASSO 1 – Dar somente leite materno até os seis meses, sem
oferecer água, chás ou qualquer outro alimento.
PASSO 2 – A partir dos seis meses, oferecer de forma lenta e
gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou
mais.
PASSO 3 – A partir dos seis meses, dar alimentos complementares
(cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia
se a criança receber leite materno e cinco vezes ao dia se estiver desmamada.
PASSO 4 – A alimentação complementar deve ser oferecida sem
rigidez de horários, respeitando-se sempre a vontade da criança.
PASSO 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o
início e oferecida de colher; começar com consistência pastosa (papas / purês),
e gradativamente aumentar a sua consistência até chegar à alimentação da
família.
PASSO 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma
alimentação variada é uma alimentação colorida.
PASSO 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes
nas refeições.
PASSO 8 – Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes,
balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com
moderação.
PASSO 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos;
garantir o seu armazenamento e conservação adequados.
PASSO 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se
alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando
a sua aceitação.
Alimentação no primeiro ano
de vida na ausência ou insuficiência de leite humano
Frente à absoluta impossibilidade de amamentar a criança ao sei, é
necessária a introdução de outro leite e habitualmente o leite de vaca é
indicado. Para minimizar as enormes diferenças em relação ao leite humano e
tentar ajustá-lo às necessidades nutricionais do lactente, o leite de vaca deve
ser modificado. Nesse sentido as formulas infantis são as mais indicadas.
São elaboradas, em geral , a partir do leite de vaca, do leite de
outros animais ou de constituintes proteicos de origem variada – em geral, da
soja.
Formula
|
Descrição
|
Fórmula de partida
|
Destina-se a alimentação do lactente até 6
meses, sob prescrição do médico ou nutricionista.
|
Formula sequencial
|
Destinam-se ao lactente maior de 6 meses
|
Formulas infantis para
necessidades dietoterápicas
|
Modificações especiais com intuito de
atender necessidades específicas, permanentes ou temporárias, fisiológicas ou
patológicas como, por exemplo, formula para alergia à proteína do leite de
vaca ou para intolerância à lactose
|
Formula infantil de seguimento para crianças
na primeira infância
|
Indicada para crianças de 1 a 3 anos de idade.
|
Leite
|
Leite de vaca in natura pode ser ou não modificado mediante fortificação ou
redução de nutrientes, objetivando-se benefícios na saúde.
|
No caso de utilizar-se leite de vaca pasteurizado deve diluí-lo a
2/3 (10%, se em pó) apenas nos primeiros dois meses de vida e, a partir daí,
deve ser integral (15%, se em pó). Deve-se adicionar açúcar em concentrações de
3-5% e a adição de farinha nos primeiros três meses de vida deve ser
considerada se houver ganho insuficiente de peso. Nesse caso podem ser
utilizados cozimentos ou mesmo cereais industrializados, observando-se se a
digestão é satisfatória.
A partir do 4° mês deve-se iniciar com papas de frutas e papas de
legumes.
UNIFENAS RESUMIDA
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