GT2: Colesterol: perfil lipídico e
tratamento não farmacológico
Autor: João Maximiano
Faculdade de ciências médicas -UNIFENAS-BH
·
Fosfolípides:
formam
a estrutura básica das membranas celulares.
·
Colesterol:
precursor
dos hormônios esteroides, dos ácidos biliares e da vitamina D. Também fornece
fluidez à membrana celular.
·
Triglicérides:
atuam como forma de armazenamento de energia no tecido adiposo e muscular.
Ø Lipoproteínas: permitem
a solubilização e transporte dos lípides, que são substâncias apolares (insolúveis),
no meio aquoso plasmático. São compostas por lípides e apoliproteinas (apos).
Funções
das apoproteínas
v Formação intracelular das partículas
lipoproteicas: Após B100 e B48.
v Ligantes a receptores de membrana: B100
e Apo E.
v Co-fatores enzimáticos: Após
CII, CIII e A.
a) Metabolismo dos quilomicra (Q) (rica
em TG): formados nas células da mucosa
intestinal, movem-se pelo sistema linfático e entram na corrente sanguínea pela
subclávia esquerda. Transportam triacilglicerol, colesterol, vitaminas
lipossolúveis e ésteres de colesterol da dieta.
Ø Apoliproteína do quilomicra: B-48
Ø No plasma: ao chegar no plasma o “quilomicron nascente” recebe a
apoproteína E e apo-CII. A proteína CII ativa a lípase lipoproteica
(capilares do tecido adiposo, coração, músculo esquelético e da glândula mamária
em lactação) que quebrará o triacilglicerol em acido graxo e glicerol.
Ø Contem alta proporção de triacilglicerol.
Ø Os quilomicra remanescentes após perderem grande parte do
triacilglicerol movem-se até o fígado onde receptores para apo-E medeiam sua
captação endocítica pelas hepatócitos. Nestas células o colesterol é liberado e
degradado pelos lisossomos.
b) Metabolismo do VLDL (rica em TG): são produzidas no fígado e compostas basicamente de triacilgliceróis
endógenos, mas também do excesso de ácidos graxos e/ou carboidratos da dieta.
Sua função é carregar esse lipídeos do fígado para os adipócitos e músculos
onde serão degradados pela lípase lipoproteica. Sua apoliproteína é a B-100 e
obtém no plasma a apo C-II e apo E. Outras apoliproteínas são:
CI e CIII. Nos adipócitos os ácidos graxos serão armazenados e nos miócitos
serão oxidados em busca de energia. A maioria do VLDL é removida da circulação
pelos hepatócitos da mesma forma que os quilomicra, ou seja, com reconhecimento
da apo-E. A perda de parte de triacilglicerol converte o VLDL em IDL
(lipoproteína de densidade intermediária) a perda de mais triacilglicerol
converte IDL em LDL.
c) Metabolismo do LDL (rica em
colesterol): como já foi exposto acima o LDL é um
remanescente do VLDL que contém a apoB-100. Esta apoliproteína se liga a receptores
de LDL presentes em células que necessitam captar colesterol. A
ligação de LDL aos seus receptores iniciam sua endocitose transferindo o LDL e
seu receptor para o interior celular dentro de um endossomo. O endossomo então
funde-se a um lisossomo que provocará a hidrólise dos ésteres de colesterila,
liberando colesterol e ácidos graxos.
A apoB-100 também está presente no
VLDL, mas o seu domínio de ligação ao receptor não está disponível para a interação
com o receptor de LDL o que impede sua endocitose. No entanto estes receptores
de LDL podem ligar a apo-E e levarem a endocitose do VLDL e de quilomicra.
d) Metabolismo do HDL (rica em
colesterol): origina-se no
intestino delagado e no fígado. Contém muita proteína e pouco colesterol. Suas
principais apoliproteínas são apoA-I, apoC-I e apo C-II. O HDl
ainda contem uma enzima denominada lectina-colesterol-aciltransferase (LCAT)
que catalisa a formação de esteres de colesterila a partir de lectina e de
colesterol.
Ø O LCAT na superfície das partículas de HDL nascentes converte o
colesterol e a fosfatidilcolina dos remanescentes do quilomicra e da VLDL em
éster de colesterila, dando início a formação do núcleo de HDL amadurecendo
esta HDL. Esta HDL pode ser então direcionada para os seguintes destinos:
o Captada pelo fígado por endocitose
mediada por receptor.
o Ligar-se a proteínas receptoras na
membrana plasmática denominadas SR-B1 presentes no tecido hepático e adrenal. Esses
receptores promovem a transferência parcial e seletiva do colesterol e de
outros lipídeos da HDL para o meio intracelular. Dessa forma a HDL pode
retornar a circulação extraindo mais lipídeos dos quilomicra e das VLDL
remanescentes.
o HDL vazia pode captar colesterol
armazenado em tecidos extra-hepáticos e transportá-lo para o fígado, em vias
chamadas transporte reverso de colesterol. Neste caso a
interação do HDl com receptores SR-BI ativa o movimento passivo de colesterol
presente na superfície celular para as HDL que os transporta novamente para o
fígado.
o A apoA-I interage com um
transportador ativo de membrana o ABC1 levando a endocitose do HDL que é,
então, novamente secretado com uma carga de colesterol que é transportada para
o fígado.
O HDL também inibi a fixação de
moléculas de adesão e monócitos ao endotélio e estimula a liberação de óxido
nítrico.
Bases fisiopatológicas das dislipidemias primárias
O que é dislipidemia: corresponde a concentrações elevadas
de lipídeos no sangue.
o Hipertrigliceridemia: resultante do acumulo de quilomicrons e/ou VLDL no compartimento
plasmático decorrente da diminuição da diminuição da hidrólise dos
triglicérides pela lípase lipoproteica ou pelo aumento da síntese de VLDL. A
diminuição da atividade da enzima é decorrente de: 1) mutações no gene da
enzima, 2) mutações no gene da apo-CII, responsável por estimular a ação da
lípase lipoproteica.
o Hipercolesterolemia: acumulo de LDL no compartimento plasmático decorrente de: 1) defeito no
gene do receptor de LDL resultando em uma diminuição na captação da
lipoproteína e consequentemente de seu metabolismo, 2) mutação no gene da apo
B-100 levando a acoplamento deficiente da lipoproteína ao seu receptor.
Determinações laboratoriais
Nos exames laboratoriais, a fim de obter o perfil lipídico do indivíduo,
utiliza-se os resultados do HDL, LDL, Colesterol total (CT), Triglicérides (TG)
para se traçar decisões clínicas. A formula de Friedewald nos permite decifrar
o coleterol total utilizando as outras variáveis:
(valida se TG < 400mg/dL) (o TG/5 é o VLDL)
Ø Variações biológicas que podem afetar os
resultados
A
determinação do perfil lipídico de ser feita em indivíduos com dieta habitual,
estado metabólico e peso estáveis por pelo menos duas semanas antes da
realização do exame. Alem disso, deve-se evitar a ingestão de álcool e
atividade vigorosa nas 72 e 24 horas que antecedem a coleta de sangue,
respectivamente.
Pacientes
com alterações em seu perfil lipídico devem ter seus exames refeitos em um
intervalo de 1 semana a 2 meses após a coleta inicial.
Classificação laboratorial das
dislipidemias
As
dislipidemias podem ser classificadas genotipicamente ou fenotipicamente. No
primeiro caso observa-se mutações monogênicas e poligênicas nos genes das
apoliproteínas ou dos receptores de lipoproteínas. No segundo caso observa-se
alterações nos valores de CT, LDL, TG e HDL classificando-as da seguinte forma:
a)
Hipercolesterolemia
isolada: elevação isolada do LDL (≥160mg/dL)
b)
Hipertrigliceridemia
isolada: elevação isolada dos TG (≥150mg/dL)
c)
Hiperlipidemia
mista: valores aumentados de TG e LDL e CT (≥200mg/dL)
d)
HDL
baixo: (homens <40mg/dL e mulheres <50mg/dL) pode ser
isolado ou concomitante ao aumento de TG e/ou LDL.
Classificação etiológica das
dislipidemias
1)
Primárias:
devido
a causa genética.
2)
Secundárias:
1)
à doença, 2) à medicamentos e 3) à hábitos de vida inadequados.
o
Dislipidemias
secundárias à doenças
v
Diabetes
melito tipo II: consequência da resistência à insulina e
caracterizadas por hipertrigliceridemia moderada e baixos níveis de HDL. A
elevação dos TG decorre tanto do aumento da oferta de substrato (glicerol +
ácidos graxos), bem como, da diminuição da lipase lipoproteica sobre o VLDL.
v
Hipotireoidismo:
nesta
doença ocorre uma diminuição dos receptores hepáticos para LDL causando hipercolesterolemia.
Nesta mesma doença a atividade da lípase lipoproteica fica reduzida levando à
Hipertrigliceridemia.
v
Síndrome
nefrótica: ocorre aumento tanto do LDL como dos TG.
v
Insuficiência
renal
v
Obesidade:
hiperlipidemia
mista + HDL baixo.
v
Síndrome
de Cushing: aumento dos níveis de cortisol estão
relacionados à hiperlipidemia mista.
v
Anorexia
nervosa: associada à hipercolesterolemia isolada.
v
Bulimia
nervosa: associada à hiperlipidemia mista.
Tratamento não medicamentoso das
dislipidemias
a)
Terapia
nutricional: sabe-se que o consumo de gordura está
associado à elevação plasmática de colesterol. A terapia nutricional deve,
portanto, ser adotada na prevenção e no tratamento das dislipidemias, onde o
plano alimentar deve contemplar questões culturais, regionais, sociais e
econômicas, devendo ser agradável ao paladar e visualmente atraente. O paciente
deverá receber orientações relacionadas à seleção, quantidade, técnicas de
preparo e substituições dos alimentos.
·
Colesterol
e ácidos graxos saturados: influenciam diretamente os níveis
lipídicos plasmáticos principalmente no que é relacionado ao colesterol. Para
reduzir a ingestão de colesterol, deve-se diminuir o consumo de alimentos de
origem animal, em especial as vísceras, leite integral e seus derivados.
Embutidos, frios, pele de aves e frutos do mar. Para reduzir a ingestão de
ácidos graxos saturados aconselha-se a redução na ingestão de gordura animal,
polpa e leite de coco e de alguns óleos vegetais, como os de dendê.
·
Ácidos
graxos insaturados: podem ser polinsaturados (ômega-3 e ômega-6)
e os monoinsaturados (Omega-9). Os ácidos graxos insaturados polinsaturados
devem substituir os saturados levando à uma redução no CT e no LDL, apesar de
terem o inconveniente de diminuir o HDL quando em excesso. O Omega-3 encontrado
em peixes de água fria, soja, canola e linhaça, reduz a síntese hepática de
VLDL, podendo ainda exercer outros efeitos cardiovasculares como redução da
viscosidade do sangue, maior relaxamento do endotélio e também efeitos
antiarrítmicos. Os monoinsaturados exercem o mesmo efeito, sem porem, diminuir
o HDL. Suas fontes são óleo de oliva, óleo de canola, azeitona, abacate e
oleaginosas (amendoim, castanhas, nozes e amêndoas).
·
Ácidos
graxos trans: reduzem o HDL e aumentam o LDL e os TG. São
encontrados na gordura vegetal hidrogenada, utilizada no preparo de sorvetes
cremosos, chocolates, pães recheados, molhos para salada, sobremesas cremosas,
biscoitos recheados, alimentos com consistência crocante, bolos
industrializados.
·
Fibras:
são
subdivididas em solúveis (frutas e gomas como aveia, cevada e leguminosas:
feijão, grão de bico e lentilha) e insolúveis (celulose, hemicelulose e
hortaliças). As solúveis diminuem o tempo do transito gastrointestinal e também
diminuem a absorção de colesterol. As insolúveis, por sua vez, causam sensação
de saciedade auxiliando na redução da ingestão calórica. A recomendação da
ingestão é de 20 a 30g/dia endo 5 a 10g solúveis.
·
Proteína
de soja: a ingestão de 25g/dia pode reduzir o LDL plasmático sendo
recomendada para tratar hipercolesterolemia. Fontes: feijão de soja, óleo de
soja, queijo de soja (tofu), molho de soja (shoyo), farinha de soja, leite de
soja e concentrado proteico de soja.
b)
Terapia
nutricional específica para hipertrigliceridemia: redução
da ingestão total de gorduras. Máx. de 15% das calorias diárias na forma de
gordura.
c)
Atividade
física: a prática de exercícios físicos anaeróbios promovem a
redução dos níveis de TG, aumento dos níveis de HDL, porém sem alterações
significativas sobre as concentrações de LDL.
Deve
ser realizada uma avaliação clínica mais um teste ergométrico para saber a
capacidade física de cada paciente.
O
programa de exercícios para prevenção ou reabilitação, deve incluir exercícios
aeróbios, tais como, caminhadas, corridas leves, ciclismo e natação. Os
exercícios devem ser realizados de 3 a 6 vezes por semana em durações de 30 a
60 minutos. Recomenda-se intensidade de 80% da FCmáx estimada em teste
ergométrico.
UNIFENAS RESUMIDA
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