Faculdade de ciências médicas UNIFENAS-BH
Autor: João Maximiano
GT5: Aterosclerose
Homeostase
vascular
Túnica intima: a
túnica intima constitui-se de monocamada de células endoteliais estendidas
sobre uma membrana basal. As células endoteliais formam uma interface
semipermeável entre o sangue e as demais camadas do vaso e entre o sangue e os
tecidos.
O
endotélio produz enorme gama de mediadores endógenos, capaz de controlar o
tônus vascular, influenciar a adesão e agregação de plaquetas e reger a
interação entre endotélio e células inflamatórias.
O
processo de envelhecimento frequentemente caracteriza-se por artérias
portadoras de uma intima mais complexa, que inclui células musculares lisas e
matriz em sua composição. Esse espessamento
intimo difuso, pode ocorrer mesmo na ausência da aterosclerose.
·
O
endotélio e o tônus vasomotor: o óxido nítrico (NO) é
considerado o mais importante fator relaxante derivado do endotélio sendo um
dos grandes representantes da função vascular. As ações do NO podem ser
visualizadas abaixo:
Alem de um potente
vasodilatador o endotélio também produz, sob estímulos como a isquemia ou
hipóxia, um potente vasoconstritor identificado como endotelina-1 (ET-1). Uma
vez liberada a ET-1 se liga ao seu receptor ET-A nas células musculares lisas,
levando a um aumento na concentração intracelular de cálcio o que ocasionará
forte constrição.
O tônus pode ainda ser
regulado através de outros componentes vasoativos produzidos pelo endotélio,
como a prostaciclina (PGI2) e o fator ativador de plaquetas (PAF). O
primeiro induz a vasodilatação e o segundo pode executar vasodilatação e
vasoconstrição dependendo da concentração administrada.
·
O
endotélio e a coagulação: o papel do endotélio na coagulação
baseia-se principalmente no equilíbrio entre suas atividades anti e
pró-trombóticas. Em um contexto homeostático normal, o endotélio comporta-se
como superfície anticoagulante. Perturbado por forças físicas ou químicas, o
endotélio transforma-se em superfície pró-coagulante, propriedade que, apesar
de ter função protetora, é base de várias desordens trombóticas, como a
aterosclerose.
A manutenção do endotélio
como superfície antitrombótica é realizado de forma geral pelo controle da
geração de trombina, o que é feito pelos seguintes mecanismos:
Ø Presença
de antitrombina III na matriz associada ao endotélio;
Ø Expressão
do inibidor do fator tecidual (TFPI) na superfície das células endoteliais;
Ø Expressão
da trombomodulina (TM) na superfície das células endoteliais.
A
transformação da superfície endotelial em um ambiente pró-trombótico depende da
expressão de vários fatores, dentre eles o:
Ø O
fator tecidual que acelera a ativação dos fatores X e IX através do fator VII.
Ø PAI-1
(ativador de plasminogênio) que exerce atividade anti-fibrinolítica.
·
Interação
entre endotélio e células sanguíneas: o endotélio expressa em sua
superfície moléculas capazes de orquestrar o tráfego de células sanguíneas
circulantes. Essas moléculas: 1) guiam a migração de leucócitos para órgãos específicos
em condições fisiológicas e 2) aceleram a migração para sítios de inflamação em
resposta a árias citocinas pró-inflamatórias.
As plaquetas circulantes
normalmente não interagem com a superfície endotelial graças a ação do NO, PGI2,
dentre outros mediadores. Entretanto quando em contato com componentes
subendoteliais, tornam-se rapidamente ativadas, aderindo-se à superfície
exposta. As plaquetas já aderidas interagem com plaquetas circulantes, formando
um plug hemostático que, após a
formação de trombina, torna-se um coagulo de fibrina estável.
Início
da aterogênese
a)
Fatores
de risco e disfunção endotelial: inicialmente achava-se que a
aterosclerose surgia após a exposição do subendotélio após uma lesão do
endotélio. Hoje já se sabe que basta uma disfunção do endotélio para que ocorra
o processo aterosclerótico.
Pensando
nisso define-se a gênese da aterosclerose como resultado da: 1) presença de
fatores nocivos que incidem universalmente sobre o endotélio vascular e 2) da
ausência de fatores ateroprotetores em determinados focos do leito vascular. A
aterosclerose é, portanto, uma doença focal e difusa.
No
que diz respeito a fatores nocivos consagram-se os seguintes: dislipidemia, o
diabete, HAS e tabagismo.
A
disfunção endotelial também compreende
significativa redução de vasodilatadores, notavelmente de NO, acompanhada de
elevação de vasoconstritores.
v Regiões de shear stress: são regiões em que ocorre desvio de
fluxo (ramificações) e alta turbulência. Estas áreas são mais susceptíveis a
formação de aterosclerose tornando o fluxo laminar um fator ateroprotetor. Tal
susceptibilidade aumentada está relacionada à genes seletivamente aumentados
sob o fluxo laminar e que ditam a produção de fatores antioxidantes,
vasodilatadores (NO) e antiinflamatórios.
Análise dos fatores de risco
tradicionais:
·
Hipercolesterolemia:
o
LDL é matéria prima fundamental na formação da placa aterosclerótica. No
entanto para ser nocivo o LDL precisa ser oxidado e captado por receptores
denominados scavengers que irão
incorporá-lo aos macrófagos formando as células espumosas.
·
Diabete: a exposição crônica do leito
vascular a altas concentrações de glicose plasmática podem acarretar os
seguintes efeitos: 1) efeitos deletérios das células provocados diretamente
pela glicose e 2) a formação e deposição irreversíveis de produtos finais da
glicosilação avançada (AGE). Veja a baixo as contribuições do age na formação
da aterosclerose:
· HAS: apesar de envolver
uma base molecular complexa, a HAS apresenta-se frequentemente associada a
concentrações elevadas de angiotensina II. Veja abaixo as contribuições da angiotensina
II na formação da aterosclerose:
·
Tabagismo:
é
um importante fator de risco principalmente em sítios não-coronários. Alem de
prejudicar diretamente a função endotelial, o tabaco é capaz de induzir inflamação
e, nesse cenário, promover a liberação de proteases pelos macrófagos.
b)
Etapas
clássicas da formação
1.
Acumulo de partículas lipídicas na
intima arterial após uma dieta aterogênica.
2.
Tais partículas de LDL são oxidadas e se
ligam a receptores scavengers.
Obs.
A produção de LDL oxidada depende diretamente da concentração de LDL
plasmática, com a permeabilidade do endotélio e com sua ligação a
proteoglicanos na parede arterial.
3.
A oxidação do LDL estimula a produção de
citocinas, que, por sua vez, estimulam a expressão de genes codificadores de
moléculas de adesão.
Obs.
As moléculas de adesão podem ser a E-selectina, VCAM-1 e ICAM-1. Sendo que, o
VCAM-1 também pode ser induzido na ausência de citocinas e o ICAM-1 está
presente principalmente em locais de shear
stress. Dessa forma, a turbulência produzida pela HAS pode aumentar o
ICAM-1.
4.
Ocorrerá então o recrutamento de
monócitos do plasma. Que inicialmente sofreram o rolamento na superfície
endotelial sendo este primeiro contato mediado por selectinas. Posteriormente irão interagir com o VCAM-1 e
ICAM-1. Uma vez aderente migraram para a íntima sob influencia de fatores
quimiotáticos produzidos na região subendotelial. Tais fatores podem ser: 1)
MCP-1 (recruta monócito), 2) proteína 10 induzida por interferon (IP-10)
(recruta linfócito) e 3)quimiocina alfa de célula T (I-TAC) (recruta LT) e a
monocina induzida por interferon-γ (MIG) (recruta linfócito).
5.
As partículas oxidadas são então
endocitadas pelos macrófagos formando as células espumosas.
6.
Em adição aos macrófagos, os linfócitos
T se acumulam em lesões ateroscleróticas humanas. Moléculas de adesão como
VCAM-1 e ICAM-1 participam da migração destes LT. Os macrófagos, por sua vez,
apresentaram um antígeno (LDLox ou proteínas de choque térmico HPS),
aderidas ao complexo principal de histocompatibilidade MHC na superfície do
macrófago, ao receptor da célula T (TCR). Esse fenômeno ativa os LT que iniciam
a produção de citocinas.
Obs.
As citocinas podem ser produzidas por linfócitos Th1 (IFN-γ, IL-2 e TNF-α) e/ou
linfócitos Th2 (IL-4 e IL10). A produção do Th1, de natureza pró-inflamatória,
predomina sobre a produção do Th2 de natureza anti-inflamatória.
7.
A liberação de IFN-γ ativa macrófagos. O
TGF-α induz a proliferação de células musculares lisas. As células musculares
lisas produziram neste caso matriz extracelular. Diferentes macromoléculas como
formas de colágeno, proteoglicanos e elastina funcionam como adesivo para as
células endoteliais e células musculares lisas, fornecem sinais antiapoptóticos
para células locais, retém lipoproteínas e consistem em reservatório de fatores
de crescimento.
Complicações do ateroma
Estenose arterial
A a
evolução da aterosclerose possui longa duração podendo atingir um âmbito de
anos ou décadas. Um importante fator que parece contribuir para esse longo
período de incubação é o processo de remodelamento das artérias ao longo da
aterogênese. Durante grande parte de sua história natural, a placa apresenta crescimento
acompanhado de remodelamento centrífugo, u seja, em direção oposta ao lúmen do
vaso. Dessa forma, a lesão pode avançar silenciosamente, sem que haja redução
da luz do vaso. Assim que o crescimento da placa excede o limite da capacidade
de remodelamento positivo do vaso, inicia-se a invasão do lúmen. A estenose
pode gerar uma isquemia tecidual com angina.
Angina estável:
§ Dor em queimação ou constrição
§ Dor induzida por esforço ou estresse emocional
§ Dor de duração inferior a 20 minutos
§ Dor que remite com o repouso ou o uso de nitratos
§ Equivalentes anginosos: cansaço, dispneia
Angina instável e
IAM:(Infarto Agudo do Miocárdio)
§ Dor de duração superior a 20 min
§ Dor que não remite com o uso de nitratos
§ Dor de surgimento recente (< 4 semanas)
§ Dor com padrão crescente (marcadamente mais intensa, prolongada ou frequente
que anteriormente)
Trombose arterial: a
trombose é, basicamente, gerada a partir da exposição do conteúdo subendotelial
aos elementos do sangue. Esse contato origina-se a partir de uma solução de
continuidade formada na superfície do ateroma, sob duas formas de apresentação:
1) erosão da capa fibrosa e 2) ruptura da capa fibrosa.
Marcador: a
proteína C-reativa é o biomarcador inflamatório mais bem caracterizado e hoje
em dia o mais útil, dentre todos os atualmente disponíveis. É produzido por
células musculares lisas das coronárias humanas preferencialmente quando estas
estão doentes.
Placas estáveis X placas instáveis
A
placa aterosclerótica plenamente desenvolvida é constituída por elementos
celulares, componentes de matriz extracelular e núcleo lipídico, rico em
colesterol e a capa fibrosa, rica em colágeno.
As
placas estáveis caracterizam-se por
predomínio de colágeno, organizado em capa fibrosa espessa, escassas células
inflamatórias e núcleo lipídico de proporções menores.
As
placas instáveis apresentam
atividade inflamatória intensa, especialmente em suas bordas laterais, com
grande atividade proteolítica, núcleo lipídico proeminente e capa fibrótica
tênue. A ruptura desta capa leva a formação de um trombo.
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