FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS UNIFENAS-BH
AUTOR: João maximiano
GT7: AVE
Introdução
As
doenças vasculares encefálicas incluem algumas das doenças mais comuns e
devastadoras: acidente vascular encefálico isquêmico (AVE), AVE hemorrágico,
aneurismas intracranianos e malformações arteriovenosas (MAV).
Um
AVE, ou derrame, é definido por um início abrupto de déficit neurológico que é
atribuível a uma causa vascular focal. Assim, a definição de AVE é clínica, e
usam-se exames laboratoriais, incluindo os neurorradiológicos para apoiar o
diagnóstico. As manifestações clínicas do AVE são altamente variáveis devido a
anatomia complexa do encéfalo e de sua vasculatura.
Os
sintomas neurológicos manifestam-se em segundos após o evento e se durar a
interrupção de fluxo durar mais de alguns segundos ocorrerá um infarto ou morte
do tecido cerebral.
Quando
o fluxo sanguíneo é restaurado rapidamente, o tecido cerebral se recupera
totalmente e os sintomas do paciente são
transitórios, a isso denomina-se ataque isquêmico transitório (AIT). Neste caso
os sinais e sintomas devem remitir em até 24 horas, independente da evidência
de lesões neurológicas permanentes através de exames de imagem. Caso os sinais
e sintomas durem mais de 24 horas a definição passa a ser o AVE.
AVE ISQUÊMICO
Fisiopatologia do AVE isquêmico
A
oclusão aguda de um vaso intracraniano reduz o fluxo sanguíneo para a região
cerebral que ele supre. O grau de oclusão do fluxo depende se há ou não
circulação colateral e este grau dita o nível da lesão que temos:
Queda
no fluxo sanguíneo para zero causa morte do tecido cerebral em 4 a 10min.
Valores
< 16 a 18ml/100g tecido/minuto causam infarto dentro de 1 hora
·
Valores <20ml/100g tecido/minuto causam
isquemia sem infarto, exceto quando se prolongam por várias horas ou dias.
O
tecido envolta da região central do infarto mostra-se isquêmico, mas sua
disfunção é reversível, e denomina-se penumbra
isquêmica. A penumbra pode ser visualizada através de imagens de
perfusão-difusão por RM. A penumbra sofrerá infarto subsequente se o fluxo não
mudar – portanto, salvar a penumbra isquêmica é o objetivo das terapias de
revascularização.
O
infarto cerebral focal ocorre por duas vias distintas: 1) uma via necrótica no
qual a degradação do citoesqueleto é rápida, devido particularmente à
deficiência de energia da célula, e 2) uma via apoptótica na qual as células
são programadas para morrer.
1)
Via
necrótica:
a)
Na isquemia os neurônios são privados de
glicose; o que por sua vez resulta em incapacidade das mitocôndrias de produzir
ATP.
b)
Sem ATP, as bombas iônicas da membrana
param de funcionar e os neurônios se despolarizam, permitindo que o Ca2+
intracelular se eleve.
c)
A despolarização celular também induz a
liberação de glutamato pela terminações sinápticas; este glutamato extracelular
em excesso produz neurotoxicidade através da ativação excessiva de seus
receptores pós-sinápticos, que aumentam o influxo neuronial de Ca2+.
d)
A disfunção mitocondrial, bem como, a
degradação dos lipídeos da membrana levam a produção de radicais livres que
causam destruição catalítica da membrana e provavelmente danificam outras
funções vitais da célula.
2)
Via
apoptótica:
a)
Graus menores de isquemia, vistos dentro
da penumbra isquêmica, favorecem a morte celular apoptótica que ocorre dias e
semanas depois.
Agravantes complementares:
·
Febre:
agrava
a isquemia.
·
Hiperglicemia: glicose
> 200mg/dL agrava a isquemia.
Etiologia do AVE isquêmico
Embora
o tratamento inicial do AVE isquêmico agudo muitas vezes independa da
etiologia, definir a causa é essencial para redução do risco de recorrência.
a)
AVE
cardioembólico: a embolia cardíaca é responsável por 20% de
todos os casos de AVE isquêmicos. Advém principalmente de embolia de material
trombótico que se forma na parede atrial ou ventricular ou nas valvas cardíacas
esquerdas. Então, esses trombos se desprendem e embolizam para a circulação
arterial. Se o trombo se fragmentar rapidamente produzirá um AIT se demorar
para se fragmentar produzirá um AVE.
Os
AVE embólicos tendem a ser de início súbito, com déficit neurológico máximo
aparecendo repentinamente.
Os
êmbolos oriundos do coração alojam-se frequentemente nas artéria cerebral média
(ACM) ou posterior (ACP) ou em um dos ramos dessas artérias. Menos
frequentemente aloja-se também na artéria cerebral anterior (ACA). Êmbolos
grandes o suficiente para ocluir o tronco da ACM (3 a 4mm) acarretam grandes
infartos que afetam a substancia branca e cinzenta profunda e algumas partes da
superfície cortical.
As
principais causas de AVE cardioembólico são: Fibrilação atrial não reumática
(não valvar) IAM, valvas protéticas, cardiopatia reumática e cardiomiopatia
isquêmica.
b)
AVE
embólico artério-arterial: a formação de trombos em placas
ateroscleróticas pode embolizar para artérias intracranianas, produzindo AVE
embólico artério-arterial. De outro modo, um vaso enfermo pode sofrer trombose
aguda; o resultante bloqueio causa AVE devido à isquemia dentro da região
cerebral por ele suprida.
Qualquer
vaso enfermo pode ser a fonte incluindo:
Ø
Arco aórtico
Ø Carótidas
comuns
Ø Carótidas
internas
Ø
Artérias vertebrais e
basilar
c)
AVE de pequeno vaso: o tronco da ACM, as artérias que constituem o
polígono de Willis, e as artérias basilar e vertebrais dão origem a ramos de 30
a 300µm que penetram nas substâncias cinzenta e branca profundas do cérebro e
do tronco cefálico. Cada um desses vasos pode ocluir causando pequenos infartos
também chamados de lacunas. A HAS e a idade são os principais fatores de risco.
Principais
manifestações das síndromes lacunares: 1) hemiparesia motora por
um infarto no ramo posterior da capsula interna ou na base pontina, a face, o
braço, e a perna quase sempre são acometidos, 2) AVE sensorial puro por infarto
do tálamo ventrolateral, 3) hemiparesia atáxica por infarto na parte ventral da
ponte ou cápsula interna e 4) disartria e mão ou braço inábil devido a infarto
na parte ventral da ponte ou no joelho da cápsula interna.
Causas menos comuns de AVE isquêmico
·
Distúrbios
de hipercoagulabilidade
·
Trombose
sinusal venosa
·
Anemia
falciforme
·
Displasia
fibromuscular
·
Arterite
temporal
·
Arterite
necrosante
·
Drogas
(anfetaminas)
ATAQUES
ISQUEMICOS TRANSITÓRIOS (AIT)
Os AIT são episódios de sintomas de AVE que
duram apenas brevemente, mais precisamente em um período inferior a 24horas,
porém a maioria dura menos de 1h.
As causas de AIT geralmente são as mesmas do
AVE, no entanto, como os AIT normalmente anunciam o AVE elas são considerados
um fator de risco importante.
Alem das síndromes de AVE descritas adiante
neste artigo, um sintoma específico de AIT deve receber menção especial. A
amaurose fugaz, ou cegueira momentânea monocular transitória, decorre de
êmbolos para a artéria central da retina de um olho. Isso pode indicar estenose
carotídea.
O risco de AVE após um AIT é de 10 a 15% nos
primeiros 3 meses, e a maioria dos eventos ocorre nos primeiros dois dias pós
AIT.
Fatores
de risco para AVE e AIT isquêmicos
Prevenção
primária e secundária de AVE e AIT
Uma série de intervenções clínicas e
cirúrgicas, bem como modificações de estilo de vida, esta disponível para
prevenção do AVE. Algumas dessas são amplamente aplicáveis devido ao baixo
custo e risco mínimo; outras são dispendiosas e encerram risco substancial, mas
podem ser valiosas em alguns pacientes de alto risco.
Fatores
de risco de aterosclerose: tratar
os fatores de risco para aterosclerose (diabetes melito, HAS, tabagismo,
dislipidemias). O tratamento da HAS é primordial na prevenção do AVE.
Agentes
antiplaquetários: podem
prevenir AIT e AVE, por inibição da formação de agregados plaquetários
intra-arteriais. Os agentes antiplaquetários mais utilizados são o ácido
acetilsalicílico (AAS) e o dipiridamol.
Terapia
com anticoagulantes para AVE embólico: para prevenção primária e para pacientes que sofrem um AVE ou AIT, a
anticoagulação com varfarina reduz o risco em cerca de 67%.
Reparo
cirúrgico: o reparo
cirúrgico ou endovascular da aterosclerose carotídea é preferível ao tratamento
clínico da doença sintomática da artéria carótida.
Diagnóstico
de AVE isquêmico agudo
a)
Sinais de alerta para AVC:
b) Diagnóstico clínico: O
AVC isquêmico que envolve o território carotídeo pode se manifestar com isquemia
retiniana e encefálica (com síndromes neurológicas que associam déficit de
funções corticais, como afasia, e déficit motor e/ou sensitivo). Já o AVC
isquêmico do sistema vértebro-basilar pode apresentar sintomas
vestíbulos-cerebelares (vertigem, ataxia), anormalidades na movimentação ocular
(diplopia) e déficit motor e/ou sensitivo unilateral ou bilateral, além das
alterações visuais, como hemianopsia. O quadro clínico é determinado pela
localização e tamanho da lesão encefálica.
c) Diagnóstico
de imagem: o exame
preferencial a ser pedido é a TC. Ela deve ser realizada
rapidamente em todo paciente que procura o serviço de pronto atendimento com
déficit neurológico agudo pois permite afastar a presença de hemorragia e
identificar outras etiologias que podem ser semelhantes ao quadro clínico do
AVC, como tumores e hematoma subdural. Ela contribui para o diagnóstico correto
e deve ser exame obrigatório para a conduta adequada. Pode ainda identificar a
presença de lesões isquêmicas antigas, colaborando, deste modo, para diagnóstico
etiológico do AVC.
Alguns sinais de isquemia perceptíveis na TC: apagamento
dos sulcos corticais e a perda de definição dos núcleos da base ou dos limites
da região cortico-subcortical. O sinal da ACM hiperdensa representa a presença
de trombo ou embolo intra-arterial.
RM: é em
vários aspectos mais sensível que a TC documentando de maneira mais fidedigna a
extensão e a localização do infarto.
AVE HEMORRAGICO
Aqui
trataremos de hemorragias intraparenquimatosas e intraventriculares.
Diagnóstico: muita
das vezes é descoberta na TC do crânio sem contraste durante a avaliação aguda
de um AVE. Como é mais sensível que a RM de rotina para a detecção de sangue
agudo, a TC é o método mais indicado durante a avaliação aguda do AVE.
Hemorragia intraparenquimatosa
hipertensiva: geralmente resulta do rompimento espontâneo
de uma pequena artéria penetrante profundamente no cérebro. Os locais mais
comuns são os núcleos da base (especialmente o putâmen). O tálamo, o cerebelo e
a ponte. A hemorragia pode ser pequena ou um coagulo pode se formar comprimindo
as estruturas subjacentes, causando herniação e morte. Em 48 h os macrófagos
começam a fagocitar a hemorragia na superfície externa. Após 1 a 6 meses ela
terá se resolvido até uma cavidade alaranjada em forma de fenda, revestida com
cicatriz glial e macrófagos repletos de hemossiderina.
·
Manifestações
clínicas
Local acometido
|
Repercussão clínica
|
Putâmen
|
Hemiparesia
contralateral. Face descai, fala incompreensível, enfraquecimento dos braços
e pernas e desvio dos olhos para longe do lado da hemiparesia. Em casos mais
agressivos temos sonolência, coma, respiração profunda, pupila ipsolateral
dilatada.
|
Tálamo
|
Hemiplegia
o hemiparesia contralateral. Afasia, apraxia ou mutismo.defeito dos campos
visuais homônimos. Desvio dos olhos para baixo e para dentro, pupilas
anisocóricas com ausência de reação fotomotora, nistagmo de retração.
|
Ponte
|
Coma
profundo com tetraplegia em questão de minutos. Hiperpnéia, hipertensão
arterial grave e hiperidrose.
|
Cerebelo
|
Cefaleia
occipital, vômitos repetidos e ataxia da marcha. Tontura e vertigem
proeminentes.
|
Hemorragia lobar: os
sinais e sintomas aparecem durante vários minutos. A maioria das hemorragias
lobares é pequena e causa uma síndrome clínica restrita, a qual simula um
embolo para uma artéria que supre o lobo. Ex: principal déficit de uma
hemorragia occipital: hemianopsia.
Síndromes de AVE
AVE na circulação anterior
·
ACM:
os
ramos corticais da ACM irrigam a face lateral do hemisfério. A ACM proximal dá
origem a ramos penetrantes que suprem o putâmen, a parte externa do globo
pálido, o ramo posterior da capsula interna, a coroa radiada adjacente e a
maior parte do núcleo caudado.
Obstrução
|
Repercussão
clínica
|
ACM na origem
|
Hemiplegia contralateral, hemianestesia, hemianopsia
homônima e olhar preferencial para o lado ipsilateral. Disartria. Afasia
global, apraxia construcional e negligência.
|
ACM em um ramo
|
Fraqueza da mão ou do braço, afasia motora, afasia
sensitiva. Heminegligência ou agnosia espacial.
|
Referência
bibliográficas:
1.
Harrison medicina interna
2.
Diagnostico e tratamento do paciente com
AVC isquêmico –Sirio-Libanês
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