GT4: Hipertensão
Autor: João Maximiano
Faculdade de Ciência Médicas UNIFENAS-BH
Conceituação
de hipertensão
A
hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial
caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (P.A).
Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos
alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas,
com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não
fatais.
Mecanismos
na hipertensão
Volume intravascular: o
volume vascular é um determinante primário da pressão arterial (P.A) a longo
prazo. Quando a ingestão de NaCl excede a capacidade de excreção de Na pelos
rins ocorrerá uma expansão do volume vascular e consecutivo aumento do débito
cardíaco. Com o tempo ocorrerá um aumento da resistência periférica total com
queda do débito cardíaco. No entanto, o resultado final, o aumento da P.A,
estará preservado. Este aumento da P.A irá ocasionar um maior aumento da
excreção renal de sódio concluindo o equilíbrio: pressão-natriurese. O
mecanismo para este fenômeno envolve:
·
Aumento sutil na taxa de filtração glomerular
·
Redução da capacidade de absorção nos túbulos
·
Fatores hormonais (ex: Peptídeos natriurético
atrial).
Sistema nervoso autônomo
Pensando
em uma repercussão aguda ocorre uma percepção de variação de pressão por
barorreceptores localizados no seio carotídeo e no arco aórtico que irão
disparar ou inibir impulsos nervosos em direção ao centro vasomotor no
encéfalo, daí partiram impulsos para os nervos simpáticos que secretam na fenda
sináptica principalmente noroepinefrina fazendo com que ocorra vasoconstrição
arteriolar, bem como, aumento da contratilidade do coração, levando a um
aumento da P.A. Sua inibição é suficiente para que os valores pressóricos
abaixem. No entanto, caso a pressão permaneça elevada de forma contínua tais
barorreceptores acabam se adaptando a estes novos valores e responderão com
mecanismos para manter este novo limiar.
Sistema renina-angiotensina-aldosterona
A
renina pode ter sua liberação induzida por: 1) transporte reduzido de NaCl para
o ramo ascendente espesso da alça de Henle (mecanismo da macula densa), 2)
diminuição do estiramento da arteríola aferente renal e 3) estimulação do
sistema nervoso simpático.
A
renina pode ter sua liberação inibida por 1) maior chegada de NaCl no ramo
ascendente espesso da alça de Henle, 2) aumento do estiramento da arteríola
aferente renal e 3) inibição simpática ou bloqueio dos receptores β1.
A
renina ainda sofre inibição de sua secreção pela angiotensina II e sofre
estimulo diante do bloqueio farmacológico da ECA ou dos receptores de
angiotensina II.
Concluindo,
a renina tem sua liberação estimulada em níveis pressóricos baixos e tem sua secreção
inibida em níveis pressóricos altos.
Ação da renina: a
renina promoverá a clivagem do substrato angiotensinogênio para formar a
angiotensina I. A angiotensina I, primordialmente na circulação pulmonar, será
convertida em angiotensina II.
Ação da angiotensina II: 1)
potente pressórico, 2) fator trófico primário na secreção de aldosterona e 3
estimula o crescimento do músculo liso vascular.
Ação da aldosterona: sob
estimulo da angiotensina II sobre os receptores AT1 na zona
glomerular do córtex suprarrenal ocorrerá a secreção de aldosterona. A
aldosterona pode: 1) aumentar a reabsorção de sódio nos ductos coletores
corticais renais.
Mecanismos vasculares
O
rio do vaso sanguíneo e a complacência das artérias também são importantes
determinantes da P.A. Nos pacientes hipertensos, alterações estruturais,
mecânicas ou funcionais podem reduzir o diâmetro da luz dos vasos aumentando a
resistência de maneira significativa. Tal remodelação do vaso pode ser
hipertrófica (onde há deposição de material na parede do vaso, a exemplo de:
aumento no numero de células, do tamanho da célula e do depósito de matriz
intercelular) ou eutrófica (onde não há deposição de material).
Uma
diminuição da complacência, como em casos de rigidez das artérias ou na
aterosclerose, pode acarretar o aumento da P.A.S e pressões de pulso amplas.
O
transporte iônico pelas células do músculo liso vascular pode contribuir para
anormalidades associadas à hipertensão do tônus muscular e crescimento
vascular.
A
atividade do trocador Na+ H+ é aumentada na hipertensão,
o que pode resultar em aumento do tônus vascular por dois mecanismo: 1) a
entrada de sódio estimula a ativação da troca Na+ Ca2+ e
2) aumento do pH aumenta a sensibilidade ao Cálcio do aparelho contrátil,
levando a um aumento da contratilidade.
A
função endotelial depende pode estar relacionada ao controle pressórico através
da liberação de óxido nítrico que causa vasodilatação. A vasodilatação
dependente do endotélio é deficiente em hipertensos.
Consequências patológicas da hipertensão
·
Coração:
a
doença cardíaca é a causa mais comum de morte nos pacientes hipertensos. A
cardiopatia hipertensiva é o resultado de adaptações estruturais e funcionais
que levam à hipertrofia ventricular esquerda, disfunção diastólica, ICC,
anormalidade do fluxo causadas por DAC aterosclerótica bem como doença
microvascular e arritmias cardíacas.
·
Cérebro:
a
hipertensão é um fator de risco importante para o infarto cerebral e hemorragia,
sendo que 85% doas AVC são provocados por infarto, e o restante por hemorragias
intracerebral e subaracnóide.
·
Rim: a
doença renal primária é a etiologia mais comum da hipertensão secundária. Em
contrapartida, a hipertensão é um fator de risco para lesão renal e DRET
(doença renal em estado terminal). O risco parece ser mais associado à pressão
sistólica que diastólica.
Fatores de risco para HAS
·
Idade:
existe
uma relação direta e linear da P.A com a idade sendo a prevalência de HAS
superior a 60% após os 65 anos.
·
Gênero
e etnia: a prevalência é semelhante entre homens e mulheres apesar
de ser maior em homens. Em relação a cor é duas vezes mais prevalente em
indivíduos malanodermos.
·
Excesso
de peso e obesidade: o excesso de peso se associa com maior
prevalência de HAS desde idades jovens. Na vida adulta , mesmo entre indivíduos
fisicamente ativos, incremento de 2,4Kg/m2 no IMC acarreta maior
risco de desenvolver HAS.
·
Ingestão
de sal: ingestão excessiva pode aumentar a P.A.
·
Ingestão
de álcool: por tempo prolongado pode elevar a P.A, bem como, a incidência
de DAC em geral.
·
Sedentarismo:
atividade física reduz a incidência de HAS, mesmo em indivíduos
pré-hipertensos, bem como a mortalidade e o risco de DAC.
·
Genética: a
contribuição de fatores genéticos para a gênese da HAS está bem estabelecida na
população. Porém, não existem, até o momento variantes genéticas que, possam
ser utilizadas, para predizer o risco individual de desenvolver HAS.
Diagnóstico de HAS
A
HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de PA pela
medida casual. Tal medição deve ser realizada por todos os profissionais da
saúde em todas as consultas.
--Condições especiais da medida da PA em
crianças, idosos
·
A medida da PA em crianças é recomendada em
toda avaliação clínica após três anos de idade, pelo menos anualmente, como
parte de seu atendimento primário, devendo respeitar as padronizações
estabelecidas para os adultos.
·
Alterações próprias do envelhecimento
determinam aspectos diferenciais na PA desta população. Valores falsamente
baixos podem ocorrer.
·
Obesos: utilizar manguitos longos e largos
para não superestimar a PA nestes pacientes.
a)
Medida
da PA no consultório: a primeira aferição da PA deverá ser
realizada em ambos os braços devendo ser considerada, caso ocorra, a pressão
mais elevada. Em cada consulta deverão ser realizadas três aferições sendo
considerada a PA a média das duas ultimas aferições. Caso as pressões sistólica
e/ou diastólica apresentem entre as aferições diferença > 4mmHg deverão ser
realizadas novas aferições até que esta diferença se torne menor.
b)
Automedida
da PA (AMPA): é aquela realizada fora do consultório por
não-profissionais da saúde. Sua principal vantagem é a possibilidade de obter
uma estimativa mais real dessa variável, tendo em vista que os valores são
obtidos no ambiente onde os pacientes passam a maior parte do dia. Valores
superiores a 130/85mmHg, pela AMPA, devem ser considerados alterados.
c)
Monitorização
residencial da PA (MRPA): a MRPA é o registro da PA, que pode
ser realizado obtendo-se três medidas pela manhã, antes do desjejum e da tomada
de medicamento, e três à noite, antes do jantar, durante 5 dias, ou duas
medidas em cada sessão, durante sete dias realizada pelo paciente ou outra
pessoa capacitada, durante a vigília, no domicílio ou no trabalho com
equipamentos validados. Considerar anormais a média das medidas de PA >
130/85mmHg.
d)
Monitorização
ambulatorial da PA de 24 h (MAPA): é o método que permite o
registro indireto e intermitente da PA durante 24 h ou mais, enquanto o
paciente realiza suas atividades habituais durante os períodos de vigília e
sono. São consideradas anormais as medias de PA de 24 horas >125X75mmHg,
vigília > 130X85mmHg e sono > 110/70mmHg.
Classificação
·
Hipertensão:
a
linha demarcatória para HAS considera valores de PAS sistólica ≥ 140mmHg e/ou
de PA sistólica ≥ 90mmHg em medidas de consultório sendo necessário confirmar o
diagnóstico por medidas repetidas, em condições ideais, em, pelo menos , três
ocasiões.
·
Hipertensão
sistólica isolada: aumento isolado da PAS o que pode um fator de
risco para DAC em pacientes de meia-idade e idosos.
·
Hipertensão
do avental branco: Paciente apresenta valores de PA
persistentemente elevadas no consultório
e medidas normais fora do consultório.
·
Hipertensão
mascarada: situação clínica caracterizada por valores
normais de PA no consultório porém com PA elevada pela MAPA durante o período de
vigília ou na MRPA.
Estratificação
de risco
Decisão
terapêutica e metas
Tratamento
não-medicamentoso
·
Controle
de peso: perda de peso e da circunferência abdominal
correlacionam-se com reduções da PA e melhora de alterações metabólicas associadas.
As metas a serem alcançadas são IMC < 25Kg/m2 e a circunferência
abdominal < 102 cm nos homens e < 88 cm nas mulheres.
O
acompanhamento dos indivíduos após o emagrecimento deve ser estimulado a fim de
evitar o reganho de peso.
Em
pacientes com obesidade moderada a grave a cirurgia bariátrica é uma opção para
reduzir a HAS dentre outras condições clínicas como o diabetes tipo 2.
·
Estilo
alimentar (dietas DASH, mediterrânea, vegetariana e outras):
Ø Dieta DASH: o
padrão dietético DASH (Dietary Approaches
to Stop Hypertension), rico em frutas, hortaliças, fibras, minerais e
laticínios com baixo teor de gordura, tem importante impacto na redução da PA.
Ø Dieta do mediterrâneo: também
está associada à redução da PA, uma vez que, prega o alto consumo de frutas e
hortaliças e a substituição do excesso de carboidratos por gorduras
insaturadas.
Ø Dietas vegetarianas: por
fornecerem menor quantidade de gorduras e colesterol ajudam a reduzir a
hipertensão. Entretanto, essas dietas são pobres em micronutrientes sendo
necessária a suplementação para atender a demanda
·
Redução
do consumo de sal: a relação entre PA e a quantidade de sal
ingerida tem um aspecto heterogêneo. Indivíduos com alta sensibilidade ao sal
possuem maior probabilidade de desenvolver ipertensão mesmo tendo IMC adequado.
O recomendado pela OMS é de 5g de sal de cozinha (2g de sódio)
·
Ácidos
graxos insaturados: observa-se uma discreta redução na PA com a
suplementação de óleo de peixe (ômega 3) em altas doses diárias e
predominantemente em idosos. As principais fontes são: azeite de oliva, óleo de
canola, azeitona, abacate e oleaginosas.
·
Fibras:
20
a 30g/dia sendo 5 a 10g solúveis. A aveia possuí um composto denominado
betaglucano que auxilia na redução da PA em obesos.
·
Laticínios:
o
consumo de duas ou mais porções diárias de laticínios magros correlacionou-se a
menor incidência de HAS.
·
O
alho: provou-se discreta redução da PA.
·
Chocolate
amargo: devido a altas concentrações de polifenois pode
acarretar em uma discreta redução da PA.
·
Álcool:
para
indivíduos que tem o hábito de consumir álcool recomendar no Max 30g de
etanol/dia (homens) e 15g/dia (mulheres).
·
Atividade
física: ensaios clínicos controlados demonstraram que os
exercícios aeróbios (isotônicos), que devem ser complementados pelos resistidos,
promovem redução da PA, estando indicados para a prevenção e o tratamento da
HAS. A recomendação pe a de 150 minutos semanais em no mínimo 3 dias. A
recomendação é que se inicie com atividades leves a moderadas e só quando
adaptado prossiga para atividades mais vigorosas.
Em
relação aos exercícios resistidos, recomenda-se que sejam realizados entre 2 a
3vezes por semana, por meio de 1 a 3 séries de 8 a 15 repetições, conduzidas
até a fadiga moderada (parar quando a velocidade de movimento diminuir)
·
Controle
do estresse psicossocial: diferentes técnicas tem sido avaliadas
sendo recomendadas: meditação, musicoterapia, yoga.
·
Respiração
lenta: a utilização de respiração lenta com 10 respirações por
minuto por 15 minutos diários tem demonstrado redução da PA.
·
Cessação
do tabagismo: constitui medida fundamental e prioritária na
prevenção primária e secundária das doenças cardiovasculares e de diversas
outras doenças. No entanto, não há evidencias que para o controle da PA, haja
benefícios.
·
Equipe
multiprofissional: constituída por todos os profissionais de
saúde, professores, funcionários administrativos e agentes comunitários. Todos
devem encorajar os hipertensos a adotar mudanças de estilo de vida.
Hipertensão arterial sistêmica secundária (HAS-S):
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