FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS UNIFENAS-BH
Autor: João Maximiano
Seminário: Tratamento medicamentoso das dislipidemias
Introdução
Os
hipolipemiantes devem ser empregados sempre que: 1) não houver efeito
satisfatório das Mudanças de estilo de vida (MEV) ou 2) impossibilidade de
aguardar os efeitos da MEV por prioridade clínica. Neste ultimo caso, de acordo
com a classificação de risco, os pacientes apresentam alto risco e/ou possuem
aterosclerose manifesta.
Recomendação do tratamento medicamentoso
Veja
nas próximas três tabelas o critério utilizado para estabelecer o tratamento
medicamentoso de acordo com valores de LDL-C nas diferentes estratificações de
riso
a)
Baixo
risco
b)
Médio
risco
c)
Alto
risco
Medicamentos
que atuam predominantemente na colesterolemia
Na hipercolesterolemia isolada,
os medicamentos recomendados são as estatinas, que podem ser administradas em
associação à ezetimiba, colestiramina e eventualmente a fibratos ou ácido
nicotínico.
a)
Estatinas: sua
ação consiste em inibir a enzima HMG-CoA redutase, uma das enzimas chaves na
síntese intracelular do colesterol.
Estes
medicamentos reduzem o LDL-C de 15% a 55% em adultos. A duplicação das doses
acrescenta em média 6% na redução de LDL-C. Reduzem os TG de 7% a 28% e elevam
o HDL-C de 2% a 10%. As estatinas:
·
Reduzem a mortalidade cardiovascular
·
Reduzem a incidência de eventos isquêmicos
coronários agudos
·
Reduzem a necessidade de revascularização do
miocárdio
·
Reduzem a incidência de AVC.
Forma de administração: VO / dose única diária preferencialmente a
noite para os fármacos de curta meia-vida ou em qualquer horário naqueles com
meia-vida maiores como a atorvastina e a rosuvastatina. O efeito terapêutico só
será mantido com dose diárias.
Efeitos adversos: são
raros. No entanto, para identificar possíveis efeitos adversos recomenda-se a
dosagem dos níveis basais de creatinofosfoquinase (CK) e de transaminases (ALT)
e a repetição na primeira reavaliação ou a cada aumento de dose.
Recomenda-se
a monitorizarão cuidadosa em pacientes que apresentarem:
·
Dor muscular e/ou;
·
Aumento de CK de 3 a 7 X o limite superior de
normalidade.
As
estatinas devem ser suspensas caso ocorra um ou mais dos seguintes critérios:
·
Aumento progressivo do CK;
·
Aumento do CK acima de 10 X o limite superior
de normalidade;
·
Persistências dos sintomas musculares
Evidências de hepatotoxicidade: icterícia,
hepatomegalia, aumento da bilirrubina direta e do tempo de protrombina.
Contraindicação: hepatites
agudas.
b)
Ezetimiba:
é
um inibidor de absorção do colesterol que atua na borda em escova das células
intestinais inibindo a ação da proteína transportadora de colesterol. Usada
isoladamente inibe em 20% o LDL-C. Usualmente é administrada em conjunto às
estatinas por potencializarem a redução do colesterol intracelular. Em média, a
dupla inibição proporciona reduções 20% maiores do LDL-C em comparação com a
mesma estatina na mesma dose isoladamente.
Recomendação
de uso isolado: intolerância à estatina e sitosterolemia
Recomendação
de uso em associação à estatina: em casos de elevações
persistentes de LDL-C mesma sob doses adequadas de estatinas,
hipercolesterolemia familiar homozigótica ou como primeira opção terapêutica
conforme indicação clínica.
Administração:
dose
única de 10mg/dia. Administrada a qualquer hora do dia, com ou sem alimentação.
Contraindicação:
hepatites
agudas.
c)
Resinas
de troca: são fármacos que reduzem a absorção intestinal de sais
biliares e, consequentemente, de colesterol. Com a redução da absorção reduz-se
o colesterol hepático estimulando-se o aumento da síntese de colesterol
hepático e o aumento de receptores nas células hepáticas para LDL. Reduz em
média 20% dos valores basais de LDL-C, efeito esse, potencializado pelo uso
associado de estatinas. Ocasionalmente pode promover ligeira elevação de HDL-C.
Pode ser utilizada em
crianças e em mulheres em período reprodutivo sem uso efetivo de
anticoncepcional.
Administração:
colestiramina
4g/dia (dose mínima – 24g/dia (dose máxima). Qualquer medicamento concomitante
deverá ser administrado 1h antes ou 4 h depois do uso da colestiramina.
Efeitos
colaterais: obstipação, plenitude gástrica, náuseas e
meteorismo, além de exarcebação de hemorragias pré-existentes. Alem disso pode,
eventualmente, diminuir a absorção de vitaminas (A, D, K, E) e de ácido fólico,
sendo, em alguns casos, necessária sua suplementação. Verifica-se eventualmente
aumento dos TG associado à síntese aumentada de VLDL devendo ser evitado na hipertrigliceridemia.
Medicamentos que atuam principalmente
nos TG
No
tratamento da hipertrigliceridemia isolada são prioritariamente indicado os
fibratos e, em segundo plano, o ácido nicotínico ou a associação de ambos.
Pode-se ainda utilizar o Omega-3 isoladamente, ou em associação com os
fármacos.
Na
hiperlipidemia mista, o nível de TG deverá orientar o tratamento:
a)
Fibratos:
agem
estimulando os receptores alfa ativados de proliferação de peroxissomas
(PPAR-α). Este estimulo leva ao aumento da produção e ação da lípase
lipoproteica (LPL), responsável pela hidrólise intravascular dos TG, e redução
da Apo CIII, responsável pela inibição
da LPL. Também estimula a produção de Apo A1, e consequentemente de HDL.
Reduzem os níveis de TG de 30 a 60%. Aumentam o HDL-C de 7 a 11%.
Efeitos colaterais: distúrbios
gastrointestinais, mialgia, astenia, litíase biliar, diminuição do libido,
erupção cutânea, prurido, cefaleia, perturbação do sono.
Cautela nas seguintes situações
clínicas: portadores de doença biliar, uso concomitante de
anticoagulante oral, cuja posologia de ser ajustada, função renal diminuída e
associação com estatinas (principalmente quando se trata do fibrato
Genfibrozil)
b)
Ácido
nicotínico: reduz a ação da lípase tecidual nos
adipócitos, levando à menor liberação de ácidos graxos livres para a corrente
sanguínea. Como consequência, reduz-se a síntese de TG pelos hepatócitos,
reduz-se LDL em 5 a 25%, aumenta HDL-C em 15-35% e diminui os TG em 10-50%.
Devido
a menor tolerabilidade com a forma de liberação imediata (rubor, prurido) e à
descrição de hepatotoxicidade com a forma de liberação lenta, tem preconizado
seu uso na forma d liberação intermediária.
Administração: recomenda-se
o inicio com dose diárias de 500mg com aumento gradual, em geral para 750mg e
depois para 1000mg, com intervalos de quatro semanas a cada titulação de dose,
buscando-se atingir 1 a 2 g diárias. O pleno efeito no perfil lipídico só será
atingido após com o decorrer de vários meses de tratamento.
c)
Ômega-3:
reduzem
a síntese hepática de TG. Os mais
importantes são o Eicosapentanóico (EPA) e o docosaheaenóico (DHA). Alem de
reduzir os TG podem aumentar o HDL, mas também o LDL. O ideal é 1g/dia como
terapia adjuvante ou isolado quando outras drogas são intolerantes.
Medicamentos que atuam no
HDL-C
Até
o momento, fibratos e ácido nicotínico são a opção para elevar o HDL-C,
principalmente quando também for necessário reduzir os TG.
Interações medicamentosas
A
principal interação ocorre entre fibratos e estatinas. Não há contraindicação
do uso concomitante desde que ocorra uma monitoração cuidadosa. Evitar o
fibrato Genfibrozil como o fibrato a ser associado. A associação de estatinas
com ácido nicotínico também é possível sob cautela.
Considerações finais
A
combinação terapêutica de estatinas com fibratos e/ou ácido nicotínico na forma
de liberação intermediária, tem despertado grande interesse em função de sua
evidência de regressão de volume de ateroma coronário e redução de eventos
clínicos.
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