FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS - UNIFENAS-BH
JOÃO MAXIMIANO
OSTEOPOROSE
Definição
Osteoporose
(OP) é uma desordem esquelética crônica e progressiva, de origem multifatorial,
que acomete principalmente pessoas idosas, tanto homens como mulheres ,
principalmente após a menopausa.
Caracteriza-se
por resistência óssea comprometida, predispondo ao aumento do risco de fratura,
à dor, à deformidades e à incapacidade física.
Indivíduos
mais jovens podem desenvolver OP, caso os mesmos, não tenham recebido o
estimulo adequado durante a infância não alcançando seu pico máximo de formação
óssea. Isso geralmente decorre de desnutrição ou anorexia nervosa, sendo
necessário atuar de maneira a promover o estimulo adequado à criança e ao
adolescente maximizando o pico de massa óssea.
Classificação da osteoporose
Primária Tipo 1
(pós-menopausa)
|
Predominantemente em mulheres
associada à menopausa
|
Perda acelerada de osso trabecular
|
|
Fraturas vertebrais comuns
|
|
Primária tipo 2
(senil)
|
Ocorre em mulheres e homens idosos
|
Compromete osso cortical e
trabecular
|
|
Ocorrências de fraturas vertebrais e
de fêmur
|
|
Secundária
Secundária
|
Endocrinopatias (tireotoxicose,
hiperparatireoidismo e hipogonadismo)
|
Fármacos (glicocorticoides,
antiácidos contendo alumínio, hormônio tireoidiano, anticonvulsivante,
clicosporina)
|
|
Doenças genéticas (osteogenesis imperfecta)
|
|
Artrite reumatoide
|
|
Doenças gastrintestinais
|
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Transplante de órgãos
|
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Imobilização prolongada
|
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Mieloma múltiplo
|
|
Câncer de mama
|
|
Anemia crônicas
|
|
Mastocitose
|
|
Tratamento prolongado com heparina
|
Epidemiologia
A
prevalência varia segundo a influência de vários fatores sobre a massa e a
facilidade de se realizar o diagnóstico, entretanto, atualmente, a literatura
registra maior incidência em mulheres do que em homens. Indivíduos leuodermos
tem maior chance de OP que indivíduos melanodermos.
As
fraturas mais comuns devido à OP são:
·
Fraturas vertebrais (lombares e torácicas)
·
Fraturas de punho
·
Fratura do fêmur proximal.
As
fraturas de vértebra prévia é um excelente marcador de risco de fraturas
futuras, tanto vertebrais como não vertebrais.
A
fratura de punho ocorre mais frequentemente por volta da quinta década e as
vertebrais aumentam depois dos 60 anos, enquanto que as de fêmur aumentam a
incidência na sétima década.
Apesar
de a incidência ser maior em mulheres, as fraturas decorrentes da osteoporose
em homens é mais grave e leva a maior mortalidade.
Fisiopatologia
a)
Funcionamento
normal: osso é uma forma rígida de tecido conjuntivo formada por
células, osteócitos, osteoblastos e osteoclastos. Os osteócitos estão embebidos
na matriz óssea impregnada de fosfato de cálcio. A matriz apresenta-se na fase
orgânica, constituída de colágeno, proteínas e glicosaminoglicanos, na fase
inorgânica, encontra-se principalmente hidroxiapatita (fosfato de cálcio) e
menores quantidades de outros minerais. As fibras colágenas dão elasticidade, e
os minerais, resistência. Na infância, 2/3 da substancia óssea são formados por
conjuntivo. Na velhice, são os minerais que predominam. Essa transposição de
conteúdo leva a menor flexibilidade e aumenta a fragilidade do osso.
Na
composição do esqueleto, há aproximadamente 80% de osso cortical ou compacto,
com funções mecânica e protetor, portanto mais resistente, e 20% de osso
trabecular ou esponjoso, mais frágil, responsável pela função metabólica.
·
Osteócito:
responsável
por manutenção da matriz.
·
Osteoblasto
(Ob): responsável pela produção da matriz óssea.
·
Osteoclastos(Oc): responsáveis
pela reabsorção óssea sua atividade é controlada por 1) citocinas, 2) calcitonina e 3) paratormônio.
O
processo de remodelação óssea ocorre pela ação conjunta e proporcional de Ob e
Oc. O primeiro é responsável pela formação da matriz óssea e o segundo pela
reabsorção do tecido, juntos formam a unidade básica multicelular.
Os
osteoclastos passam por três processos sendo eles em ordem: 1)proliferação, 2)
diferenciação, 3) fusão e 4)ativação. Estes eventos sofrem influência de
citocinas e hormônios. Dentre eles interleucinas, TNF-a, TGF-b, prostaglandina
E2, osteoclastos, estrogênio, paratormônio (PHT), calcitonina e
vitamina D.
O
RANKL é um membro da família TNF, expressa pelos Ob e seus precursores
imaturos. Essa citocina ativa seus receptores específicos promovendo a formação
e ativação dos osteoclastos, prolongando sua sobrevivência por meio da
supressão da apoptose. Os efeitos do RANKL são bloqueados pela osteoprotegerina
(OPG), a qual atua como antagonista do RANKL. O equilíbrio entre RANKL e OPG é
regulado pelas citocinas e hormônios e determina as funções do Oc.
Papel de alguns hormônios no tecido
ósseo:
Estrogênio: O estrógeno
regula, nos osteoblastos, a expressão dos genes que codificam o colágeno tipo
I, a fosfatase alcalina, osteopontina, osteocalcina e osteonectina. O
estrogênio aumenta a diferenciação dos osteoblastos estimulando a produção e
mineralização da matriz óssea. Alem disso, estimula a apoptose dos osteoclastos
e mantém os osteócitos viáveis.
A
síntese de interleucinas [IL-1β, IL-6, fator de necrose tumoral alfa (TNFα)],
prostaglandina (PGE2) e do fator estimulador de macrófagos, importantes agentes
reabsortivos, é inibida pelo estrógeno. O estrogênio também diminui a absorção
intestinal de Ca e diminui os receptores de vitamina D no intestino impedindo
que ela se torne ativa.
Vale
ressaltar que com a hipocalcemia gerada pela má absorção de Ca pelo intestino
ocorrerá um aumento na secreção de paratormônio (PTH) com intuito de restaurar
a isocalcemia, para tanto, ocorre uma potente reabsorção óssea com ativação dos
Oc.
Hormônios tireoidianos: estimulam
receptores IGF-1 nos osteoblastos. Estimulam a síntese e a ação da fosfatase
alcalina mediadora da mineralização óssea. Favorecem o transporte intestinal de
Ca bem como o co-transporte Na+/Pi nos rins, promovendo a reabsorção tubular de
fósforo.
Fatores de risco para osteoporose
Existem
inúmeros fatores que influenciam o desenvolvimento da osteoporose, na tabela
abaixo estão citados os principais:
Fator de risco
|
Implicações
|
Menopausa
|
Baixa
de estrogênio diminuindo o efeito protetor deste hormônio sobre os ossos.
|
Hereditariedade
|
São
mais frequentes em pessoas com histórico familiar para a doença
|
FFP prévia
|
Fraturas
prévias de forma global representam um importante Fator de risco para o
desenvolvimento de Osteoporose.
|
Magreza
|
Pessoas
magras possuem menor aromatização de androgênios e testosterona nos
adipócitos bem como tem menor formação óssea diante do baixo peso.
|
Idade avançada em ambos os sexos
|
A
perda de massa óssea avança com a idade
|
Sedentarismo
|
O
exercício físico pelo efeito de piezeletricidade, e pelo aumento do fluxo
sanguíneo estimula a formação óssea.
|
Dieta pobre em Ca e Vitamina D
|
O Ca
é um dos principais constituintes do osso sendo necessário aumentar seu
consumo. O envelhecimento da pele, bem como, o uso de vestimentas que impedem
o acesso ao sol diminuem a taxa de ativação da vitamina D
|
Tabagismo e uso de álcool
|
Maior
incidência em estudos.
|
Medicamentos
|
Corticosteroides,
anticonvulsivantes e imunossupressores.
|
Sinais e sintomas
Geralmente
a osteoporose é assintomática sendo comumente detectada após uma fratura, sob
aumento da radiotransparência em exame radiológico ou quando é realizada a DO.
Os
locais de maior ocorrência de fraturas são: punho, vértebras e região proximal
do fêmur.
Fratura
|
Idade
|
Implicações
|
Causas
mais comuns
|
Punho
|
50 anos
|
Menor impacto
|
Tentativa de diminuir o impacto de
queda.
|
Fêmur
|
70 anos
|
Impacto profundo com incapacidade de
locomoção comprometendo radicalmente a saúde da pessoa.
|
A
maioria ocorre por diminuição dos reflexos posturais com consequente traumas
principalmente por quedas
|
Vértebra
|
60 anos
|
Impacto significativo com
hipercifose dorsal, dor aguda de forte intensidade.
|
Provocadas por mínimos traumas,
como, inclinar-se para frente para pegar um objeto, levantar um peso maior,
tossir, sentar-se abruptamente ou pequenas quedas.
|
Diagnóstico da osteoporose
Não
há clinica significativa para o diagnóstico de osteoporose em seus estágios
iniciais, sendo necessário exames complementares. Porém, a investigação clínica
dos fatores de risco é fundamental para identificar possíveis vítimas.
Exames laboratoriais: geralmente
são normais na osteoporose involucional ou primária, do tipo I e II. Sua
solicitação visa estabelecer a presença de fatores secundários determinantes da
perda de massa óssea, mesma na ausência de sinais e sintomas clínicos. Devem
ser solicitados a todos os pacientes que apresentarem osteoporose.
Radiografias convencionais: a sensibilidade
e a precisão de radiografias simples para determinar baixa massa óssea são
fracas, e, na ausência da fratura vertebral, essa técnica não pode ser
utilizada para diagnosticar a OP precocemente. No entanto, na presença de
fratura por baixo impacto, o paciente deverá ser considerado osteoporótico.
Técnicas que medem a densidade óssea: com
elas podemos diagnosticar as perdas ósseas, avaliar o risco de fratura e
monitorar o tratamento.
·
Densitometria
óssea (DO ou DXA): a DXA é um termo aplicado à metodologia capaz
de medir a quantidade de osso (conteúdo mineral) em uma área ou volume
definido, calculando, como resultado desses dois parâmetros, a deficiência de
massa óssea (DMO). A DO mede a densidade óssea, em valores absolutos (g/cm2),
em todo o esqueleto ou em regiões específicas, comparando-os às curvas de
normalidade, estabelecendo o diagnóstico precoce da doença, o nível de gravidade
e o risco de fratura óssea.
A
DXA permite:
1. Determinar
o risco de fraturas;
2. Auxiliar
na identificação de candidatos para a intervenção terapêutica;
3. Avaliar
as mudanças na massa óssea, com o tempo, em pacientes tratados ou na evolução
natural da doença;
4. Aumentar
a aceitação e adesão dos diferentes tratamentos.
A
análise pode ser feita nos seguintes locais:
Técnica
DEXA
|
Local
|
Utilidade
clínica
|
Indicação
|
Coluna
AP
|
Diagnostico,
avaliação e monitoramento
|
Pós-menopausa
|
|
Fêmur
proximal
|
Diagnostico,
avaliação e monitoramento
|
Pós-menopausa e
indivíduos idosos
|
|
Antebraço
|
Diagnóstico
e avaliação de risco
|
Quando a coluna lombar
estiver acometida por doença degenerativa, em pacientes com mais de 120kg e
nos casos de hiperparatireoidismo.
|
|
Coluna
lateral
|
Avaliação
de risco e monitoramento
|
Pós-menopausa
|
As
medidas de DMO devem ser realizadas nas seguintes situações:
·
Mulheres ≥ 65 anos;
·
Mulheres na Peri ou pós-menopausa com fatores
de risco;
·
Mulheres com amenorreia secundária prolongada
(> 1 ano);
·
Fraturas anteriores;
·
Indivíduos com evidências radiográficas de
osteopenia ou fraturas vertebrais;
·
Homens após 70 anos;
·
Homens abaixo de 70 anos com fatores de risco;
·
Pessoas que apresentem perda de estatura
(2,5cm) ao longo da vida ou hipercifose torácica,
·
Indivíduos em uso de corticoides por 3 meses
ou mais, independente da dose,
·
Indivíduos com IMC baixo
·
Portadores de doenças crônicas ou em uso de
outras medicações associadas à OP
·
Para monitoramento de mudanças de massa óssea
decorrentes da evolução da doença e dos diferentes tratamentos disponíveis.
Análise dos resultados: o
método oferece três tipos de medida
1. Valor
absoluto (g/cm2);
2. Valor
percentual relativo a uma curva ajustada para a idade, sexo, raça e peso (age matched) – Z-escore.
3. Valor
percentual relativo a uma curva de jovens entre 20 e 40 anos de idade (Young adults) –T-escore
Valor absoluto: De
forma semelhante ao que ocorre às curvas de crescimento infantis, o valor
absoluto de forma isolada não define risco de fratura e não separa os
indivíduos normais dos patológicos. Esse valor é importante quando comparamos
exames prospectivamente.
Age
matched: serve
para alertar quanto à existência de alguma causa secundária para a osteopenia
ou para a osteoporose. No entanto, não define risco de fratura.
Young
adults: compara-se a massa óssea do idoso com a de
uma jovem, que possui as mesmas características em relação a sexo e peso.
Abaixo temos a classificação da OMS baseando-se neste dado:
Até -1,0 DP
|
Normal
|
Entre -1,0 e -2,5 DP
|
Osteopenia
|
Abaixo de -2,5 DP
|
Osteoporose
|
Abaixo de -2,5 DP associado à fratura
|
Osteoporose
grave
|
·
Osteoporose tipo 1: repetição do exame
anualmente
·
Osteoporose tipo 2: repetição do exame a cada
2 anos
Tratamento da osteoporose
a)
Medidas
preventivas não farmacológicas
Dieta: o
nutriente mais importante é o cálcio. Todos os consensos recomendam uma
ingestão de 1500mg de cálcio para mulheres após menopausa sem terapia
estrogênica e 1000mg para homens e mulheres em terapia estrogênica,
diariamente, devendo ser aumentada para 1500mg após os 65 anos.
Leite de vaca integral
(116ml)
|
116 mg de Ca
|
|||
Queijo
|
Parmesão 100g
|
1140 mg de Ca
|
||
Mussarela 100g
|
403mg Ca
|
|||
Ricota 60g
|
150mg Ca
|
|||
Iogurte 150ml
|
150mg Ca
|
|||
Ovo (unidade)
|
100mg Ca
|
|||
Feijão 220g
|
100mg Ca
|
|||
Sardinha enlatada
|
324mg Ca
|
|||
Verduras
½ xícara
|
Brócolis
|
127mg Ca
|
||
Espinafre
|
122mgCa
|
|||
Couve
|
130mg Ca
|
|||
Frango (700g)
|
105mg Ca
|
|||
Batata (160g)
|
100mg Ca
|
|||
Macarrão 60g
|
150mg Ca
|
|||
Um
bom aporte proteico sem exagerar em carnes vermelhas pode diminuir a
mortalidade pós-fratura de colo femoral.
Atividade física: os
exercícios mais benéficos para a estimulação óssea no idoso são realizados com
carga, como a marcha, e contra a resistência, como a musculação leve.
Recomenda-se 150 minutos semanais divididos em no mínimo 3 dias.
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