Autor: João Maximiano
PARKINSON
Doença
de Parkinson
É um
transtorno neurológico complexo, progressivo que afeta a saúde e a qualidade de
vida dos pacientes e compromete a estrutura socioeconômica familiar.
É
caracterizado principalmente pela degeneração, especialmente, das células da
camada ventral da parte compacta da substancia nigra e do lócus ceruleus.
Anatomia e fisiologia
os
gânglios basais consistem em cinco núcleos subcorticais que se estendem ao telencéfalo,
diencéfalo e ao mesencéfalo. Comumente têm sido descritos como núcleo caudado,
putâmen, globo pálido, núcleo subtalâmico e substância nigra.
O núcleo caudado medialmente e o putâmen lateralmente apresentam muitas
similaridades, e, em conjunto, são chamados de núcleo neoestriado ou apenas de núcleo estriado.
Desenvolvem-se
de uma origem comum no telencéfalo basal, mas são divididos pela capsula
interna e correspondem à principal entrada nos núcleos da base.
O globo pálido, algumas vezes denominado
paleoestriado, filogeneticamente mais antigo que o restante do núcleo estriado,
também é separado em duas partes por um feixe fibroso, denominados segmento interno e externo. As células de ambos
são semelhantes e recebem estímulos do neoestriado, projetando-se para alvos
diferentes. O segmento interno é uma das vias principais de saída de
informações dos gânglios da base.
Em
conjunto, o globo pálido e o putâmen, algumas vezes, são denominados Núcleo Lentiforme devido a sua
estrutura de feijão.
O núcleo subtalâmico é pequeno e está
localizado e está localizado na superfície interna da capsula interna.
A substância nigra é uma camada de
células situadas dorsalmente ao pedúnculo cerebral, sendo composta por dois
grupos celulares, substância negra
compacta e substância negra reticulada. A compacta é mais dorsal e
apresenta a maioria das células que produzem dopamina, correspondendo ao espectro
escuro da região. A reticulada é pálida e possui células e conexões iguais as
do seguimento interno do globo pálido e forma junto a este segmento interno a
outra via de saída dos gânglios da base.
O
circuito de funcionamento dos núcleos da base tem como objetivo regular o
movimento, facilitando-o através da via direta e inibindo-o pela via indireta.
a) Via direta: a
área 5 do córtex (área de associação somatossensória) estimula através do
neurotransmissor glutamato o estriado que possui basalmente pouca atividade.
Sendo estimulado este núcleo irá inibir (GABA) o GPi, bem como, a porção
reticulada da substância nigra, ambos com atividade basal intensa. Estas duas estruturas tem efeito inibitórios
sobre os núcleos VA e VL do tálamo, o qual tem ação excitatória sobre o córtex
motor. Portanto, ao inibir o GPi e a substancia nigra reticular ocorrerá uma
desinibição do tálamo aumentando a atividade do córtex motor e, dessa forma,
facilitando o movimento.
b) Via indireta: esta
via tem como objetivo diminuir o movimento. O estriado quando é excitado irá inibir o GPe que tem ação inibitória sobre
o núcleo ST. O ST, por sua vez, tem ação excitatória sobre o GPi que tem ação
inibitória sobre o tálamo diminuindo dessa forma a excitação sobre o córtex
motor.
c) Via Nigro-estriatal: a
via nigroestriatal tem como neurotransmissor a dopamina, utilizado pelos
neurônios da parte compacta da substância negra. Na via nigroestriatal a
dopamina tem ação excitatória global sobre a via direta via receptor D1 (no
GPi) e inibitória sobre a via indireta via receptor D2 (GPe). A consequência
global da liberação de dopamina em ambos os casos, é uma facilitação das
atividades nas áreas motoras corticais.
setas brancas são
excitatórias e negras inibitórias
Fisiopatologia das hipocinesias
(Parkinson):
A
doença de Parkinson é o protótipo da doença que envolve os gânglios da base e
produz a síndrome hipocinética clássica. Nessa doença ocorre a degeneração das
células dopaminérgicas que formam a via nigroestriatal. O efeito dessa
degeneração é a redução na concentração de dopamina no estriado. O resultado
fisiológico da perda de dopamina será uma redução na atividade dos neurônios
estriatais de projeção que formam a via direta e um aumento na atividade dos
que formam a via indireta
Todos
os aspectos do movimento são afetados, incluindo início, alteração da direção e
habilidade para interromper um movimento e depois reiniciá-lo. A diminuição da
atividade da substância nigra transmitida através das vias dos gânglios da base
leva a um desequilíbrio da informação transmitida para o córtex motor e
pré-motor. O nível de atividade em repouso dessa áreas corticais está tão
diminuída que uma quantidade maior de impulsos excitatórios de outras áreas do
cérebro poderia ser necessário antes que os padrões de movimento sejam ativados.
Na
doença de Parkinson, ocorre um aumento dos movimentos iniciados corticalmente
mesmo para atividades subcorticais como a marcha. Assim atividades automáticas
são agora corticalmente controladas, e cada aspecto individual parece ser
controlado separadamente. Mais energia precisa ser gasta para que o movimento seja
iniciado.
Alem
disso, em indivíduos com Parkinson há:
·
Retardo no recrutamento de unidades motoras;
·
Pausas na unidade motora logo após a mesma
ter sido recrutada
·
Inabilidade de aumentar a frequência de
disparos
Isso
converge em um retardo na ativação dos músculos e uma inabilidade em manter
apropriadamente a contração muscular para o movimento.
Epidemiologia
A
doença de Parkinson representa 80% dos casos de parkinsonismo. Acomete
preferencialmente pessoas com idade superior a 50 anos. A incidência e a
prevalência aumentam com o abancar da idade. A idade, o gênero feminino, a HF
positiva (genética), exposição a agrotóxicos, consumo de água do poço são fatores de risco proeminentes.
Fatores de risco para
doença de Parkinson
|
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Fatores
modificáveis
|
Fatores
não modificáveis
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Exposição
a agrotóxicos
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História
familiar positiva (genético)
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Consumo
de água de poço
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Idade
|
Exposição
a metais pesados e solventes
|
Gênero
feminino
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Características clínicas
Sinais cardinais da doença
de Parkinson
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Sinal
|
Interpretação
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Bradicinesia
|
Alentecimento
ou dificuldade para iniciar o movimento voluntário ou automático.
|
Rigidez
|
Resistência
à movimentação passiva dos membros, pescoço e tronco. Traduz-se por
fragmentação do movimento, este ocorrendo de forma entrecortada como uma roda
dentada.
|
Tremor de repouso
|
Tremor
geralmente assimétrico, acometendo um ou mais membros. A forma mais
característica é a de movimentos rítmicos dos dedos das mãos semelhante ao
ato de contar dinheiro. O tremor tende a piorar com o estresse e desaparecer
durante o sono.
|
Instabilidade postural
|
É
decorrente das alterações dos reflexos posturais, ocasionando maior numero de
quedas e podendo com o avançar da doença não permitir que o idoso posa
levantar-se o manter-se em pé sem auxilio de outra pessoa.
|
Manifestações motoras
características da doença de Parkinson
|
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Postura parkinsoniana
|
Postura
flexionada para frente com os braços a frente do corpo, cotovelos e joelhos
flexionados.
|
Marcha parkinsoniana
|
Deslocamento
em bloco com passos curtos e arrastados, sem a participação dos mmss. Passos
curtos e rápidos que vão aumentando sua amplitude até conseguir andar.
|
Bloqueio motor
|
Impossibilidade
de iniciar ou continuar o movimento
|
Sintomas e sinais
adicionais mais prevalentes na DP
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Fácies
inexpressivas
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Depressão***
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Fala
hipofônica
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Aumento
no tempo das atividades de vida diária
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Micrografia
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Marcha
fastinante
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Déficit
cognitivo
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Perda
do balanço dos braços
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Cãibras
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Acumulo
de saliva
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Hipotensão
ortostática
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Os
transtornos de humor são relativamente frequentes na DP como podemos observar
na tabela abaixo:
Transtornos de humor na DP
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Transtorno
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Prevalência
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Depressão maior
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17%
dos casos
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Depressão menor
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22%
dos casos
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Distimia
|
13%
dos casos
|
Alem
de tudo que já foi citado o paciente parkinsoniano ainda pode vir apresentar:
dor, queimação, prurido, fadiga e insônia. Pele fria, seborreia, constipação
intestinal, disfunção erétil, diminuição da libido são relatados.
Diagnóstico
A DP
é neurodegenerativa e de longa duração. Todo portador de DP tem parkinsonismo,
porém nem todo portador de parkinsonismo tem DP. O diagnóstico é baseado na
identificação dos sinais e sintomas que compões o quadro clínico.
O
diagnóstico consiste em identificar a bradicinesia e mais um dos demais sinais
cardinais. Os exames laboratoriais e a TC são uteis para afastar outras
doenças. Não existe marcador biológico para DP.
PET
e SPECT tem sido uteis para o monitoramento da doença, mas são descartáveis
para diagnóstico.
Alem
da avaliação clínica é necessário utilizar uma das escalas para graduação da
incapacidade. A escala de Hoehn e Yahr é
uma sugestão.
Diagnostico diferencial
No
diagnóstico diferencial de DP devem-se incluir as doenças que simulam o
parkinsonismo e as doenças neurológicas nas quais o parkinsonismo compões o
quadro clínico.
Tremor
essencial
|
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Doenças
neurológicas
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Hidrocefalia
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Doença de Huntington
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Síndrome de Shy-Drager
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Degeneração estriatonigral
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Paralisia supratroclear
progressiva
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Doença difusa dos corpos
de Lewy
|
,
Tratamento
Até
o momento não existe tratamento medicamentoso ou cirúrgico que previna ou cure
a doença. O tratamento visa o controle dos sintomas. O objetivo é manter a
pessoa idosa o maior tempo possível com autonomia, independência funcional e
equilíbrio psicológico. A levodopa continua sendo o padrão-ouro no tratamento.
Farmacológico
a)
Precursor
dopaminérgico – levodopa: deve-se iniciar com baixas doses 1 ou 2
horas antes das refeições. Por apresentar meia vida de 2 horas deve-se
administrar de 3 a 4 vezes ao dia. Com o avançar da doença é necessário
aumentar as doses e diminuir o intervalo entre as tomadas. Em torno de 5 anos
de tratamento com levodopa 50% dos doentes desenvolverão alguma complicação. O
levodopa sofre competição na barreira gastrointestinal e hematencefálica.
b)
Agonistas
dopaminérgicos: estimulam diretamente os receptores
dopaminérgicos, tem meia vida mais longa, independem da ação enzimática, não
sofrem competição na absorção intestinal e passagem pela barreira
hematencefálica. Porém tem baixa tolerabilidade pois estão associados à
náuseas, vômitos, efeitos cardiovasculares e psiquiátricos. Os efeitos
desejados demoram de 4 a 6 semanas para ocorrerem.
c)
Inibidores
da COMT: devem sempre ser associados ao levodopa. Sua ação
consiste em diminuir a metabolização de levodopa em COMT.
Não farmacológico
a)
Intervenções fisioterápicas. É
necessário conhecimento de fisioterapia neurológica. Há ganho da força
muscular, flexibilidade, melhora do equilíbrio, postura e redução da
bradicinesia e rigidez.
b)
O trabalho fonoaudiólogo tem se mostrado
efetivo em melhorar a voz e a deglutição devendo ser iniciado o mais breve
possível.
c)
Aporte calórico, proteico e hidratação
adequada que tendem a diminuir o agravo das complicações frequentes no curso da
doença. A concentração de alimentos de alto poder proteico em uma das refeições
pode permitir uma estratégia farmacológica com maior disponibilidade do levodopa.
d)
Manter os familiares e cuidadores
informados sobre a evolução da doença e as formas de tratamento.
Tratamento cirúrgico
Baseia-se
em procedimentos ablativos que resultam na destruição de uma área específica do
cérebro, sendo os avos mais utilizados o tálamo, o globo pálido interno e o
núcleo subtalâmico.
Outro
método é a estimulação do NST por eletrodos.
Resumo dos tratamentos
possíveis para DP
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Farmacológico
|
Levodopa
|
Agonistas dopaminérgicos
|
|
Inibidores da COMT
|
|
Não
farmacológico
|
Intervenções
fisioterápicas
|
Trabalho fonoaudiólogo
|
|
Aporte nutricional
adequado
|
|
Informar incessantemente
os cuidadores e familiares
|
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Cirúrgico
|
Cirurgias ablasivas
|
Estimulação cerebral
profunda NST
|
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