Hipertensão arterial sistêmica (HAS)
João Lage
Conceituação
A hipertensão arterial sistêmica (HAS)
é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e
sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações
funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos
sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de
eventos cardiovasculares fatais e não-fatais.
Epidemiologia
A HAS tem alta prevalência e baixas
taxas de controle, é considerada um dos principais fatores de risco (FR)
modificáveis e um dos mais importantes problemas de saúde pública. A
mortalidade por doença cardiovascular (DCV) aumenta progressivamente com a
elevação da PA a partir de 115/75 mmHg de forma linear, contínua e independente.
No nossa país as doenças
cardiovasculares são as principais causadoras de mortes. Inquéritos
populacionais em cidades brasileiras nos últimos 20 anos apontaram uma
prevalência de HAS acima de 30%. A principal faixa etária atingida é aquela
compreendida por idade maior que 60 anos.
Fatores de risco
·
Idade: aumento linear com a idade.
Prevalência de 60% após 65 anos.
·
Gênero e etnia: até os 50 anos é mais prevalente em
homens e após esta idade inverte para as mulheres. Com relação ao gênero é duas vezes mais
prevalente em indivíduos de cor não branca.
·
Sobrepeso de obesidade: O excesso de peso se associa com maior
prevalência de HAS desde idades jovens. Na vida adulta, mesmo entre indivíduos
fisicamente ativos, incremento de 2,4 kg/m2 no índice de massa
corporal (IMC) acarreta maior risco de desenvolver hipertensão. A obesidade
central também se associa com PA.
·
Sedentarismo: reduz o risco e a mortalidade.
·
Nível socioeconômico: no Brasil a prevalência foi maior em indivíduos
com menor escolaridade.
·
Genética.
·
Ingestão de sal: ingestão excessiva de sódio tem sido
relacionada a elevação da PA.
·
Ingestão de álcool: a ingestão por períodos prolongados
aumentará a PA e a mortalidade.
Fisiopatologia
O consumo excessivo de sódio fará com
que 1) Haja elevação da osmolalidade do líquido extracelular o que estimula o
centro da sede no cérebro fazendo com que a pessoa beba uma quantidade maior de
líquido aumentando o volume de líquido extracelular, 2) o aumento da
osmolalidade estimula também o mecanismo do hipotálamo-hipófise que estimulará
a liberação de ADH. Esse hormônio fará com que os rins absorvam uma quantidade
maior de água pelos túbulos renais aumentando também o volume extracelular.
Com o aumento do volume extracelular
teoricamente ocorreria aumento de: 1) DC pelo reflexo de Bainbridge devido ao
maior retorno venoso, 2) aumento da pressão arterial.
O aumento agudo da PA inicialmente é
controlado por aparato barorreceptor localizado no sei carotídeo e arco aórtico
que interrompe o fluxo simpático acarretando: 1) vasodilatação com consequente
diminuição da resistência periférica total (RPT) e 2) diminuindo a força e
frequência de contração cardíaca o que diminuí consequentemente o DC.
O controle também é feito pela maior
excreção renal de Na+ em um processo conhecido com natriurese por
pressão.
Pensando cronicamente, nas semanas
seguintes, o grande fluxo sanguíneo pelos tecidos provocou a constrição
progressiva das arteríolas locais retornando então os fluxos sanguíneos locais
em todos os tecidos do corpo e também o DC aos valores normais, enquanto
provocava secundariamente a elevação da RPT.
Alem deste aumento da RPT ocorrerá uma
reprogramação dos barorreceptores há valores pressóricos mais elevados sendo
que o fluxo simpático deixa de ser interrompido mesmo diante de pressões
consideradas anteriormente altas.
Diagnóstico de HAS
a)
Medida da pressão arterial no
consultório:
·
As
medidas devem ser obtidas em ambos os braços devendo ser usado o braço com
maior valor para as medidas subsequentes.
·
Em
cada consulta deverão ser realizadas no mínimo três aferições sendo
recomendável um intervalo de 1 minuto entre elas. A medida das duas últimas
deverá ser considerada a PA real.
·
A
posição recomendada para medir a PA é sentada. A medida na posição de supina e
em ortostatismo deverá ser realizada ao menos na primeira consulta em todos pacientes
e em todas as avaliações em idosos, diabéticos, alcoolistas e/ou em uso de
anti-hipertensivos.
b)
Medida residencial da pressão arterial
(MRPA): realizar três
medidas da PA antes do desjejum e 3 medidas antes do jantar por 5 dias ou 2
medidas antes do desjejum e 2 antes do jantar por 7 dias. Considerar anormais a média das
medidas de PA > 130/85mmHg
c)
Medida ambulatorial da pressão
arterial (MAPA): é o método que permite o registro indireto e intermitente
da PA durante 24 h ou mais, enquanto o paciente realiza suas atividades
habituais durante os períodos de vigília e sono. São consideradas anormais as
medias de PA de 24 horas >125X75mmHg, vigília > 130X85mmHg e sono >
110/70mmHg.
Classificação
da hipertensão
Avaliação
clínica da pressão arterial
Anamnese: Deve-se obter história clínica
completa, com especial atenção aos seguintes dados:
1)
Tempo
que é hipertenso
2)
Tratamentos
prévios para HAS
3)
Fatores
de risco para HAS
4)
Indícios
de hipertensão secundária e de lesões de órgãos alvo
5)
Aspectos
socioeconômicos
6)
Aspectos
de estilo de vida
7)
Uso
pregresso e/ou atual de drogas que possam intervir em seu tratamento (anti-inflamatórios,
anorexígenos, descongestionantes nasais, etc)
Exame físico:
1)
Alem
da medição da PA a FC deve ser medida, uma vez que, sua elevação indica maior
risco cardiovascular.
2)
Avaliar
a obesidade medindo a circunferência abdominal (limítrofe = 88cm mulheres e
102cm homens)
3)
Realizar
o exame de fundo de olho.
4)
Realizar
o índice do tornozelo braquial: Utilizar os valores de pressão arterial
sistólica do braço e tornozelo, sendo considerado o maior valor braquial para
cálculo. ITB direito = pressão tornozelo direito/pressão braço direito. ITB
esquerdo = pressão tornozelo esquerdo/pressão braço esquerdo.
Investigação complementar: Está indicada na presença de
elementos indicativos de doença cardiovascular e doenças associadas, em
pacientes com dois ou mais fatores de risco, e em pacientes acima de 40 anos de
idade com diabetes. Ajuda a estratificar melhor o risco do paciente.
Estratificação
de risco
Para a tomada da decisão terapêutica é
necessária a estratificação do risco cardiovascular global (tabela 9) que
levará em conta, além dos valores de PA, a presença de fatores de risco
adicionais (tabela 6), de lesões em órgãos-alvo (tabela 7) e de doenças
cardiovasculares (tabela 8).
Terapêutica
a)
Decisão terapêutica e metas: A decisão terapêutica deve ser baseada
no risco cardiovascular considerando-se a presença de fatores de risco, lesão
em órgão-alvo e/ou doença cardiovascular estabelecida, e não apenas no nível da
PA.
b)
Medidas
não – farmacológicas
Fatores psicossociais, econômicos,
educacionais e o estresse emocional participam do desencadeamento e manutenção da
HAS e podem funcionar como barreiras para a adesão ao tratamento e mudança de
hábitos. Diferentes técnicas de controle do estresse têm sido avaliadas, porém
com resultados conflitantes. Meditação, musicoterapia, biofeedback, yoga, entre
outras técnicas de controle do estresse, foram capazes de reduzir discretamente
a PA de hipertensos.
c)
Tratamento
farmacológico
Medicamentos
1° linha
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Classe
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Nomes comerciais
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Apresentação
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Dose
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E. colaterais
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Diuréticos
tiazídicos
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·
Hidroclorotiazida
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Genérico:50mg/cp
F.popula:25mg/cp
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·
Inicio: 12,5 a 50mg/dia 1-2
·
Ajuste: até 200mg/dia
|
Cefaleia,
tonteira, fraqueza muscular, hipocalemia, hiponatremia, hiperglicemia,
náusea, vômito, diarreia. Efeito é parcialmente bloqueado por AINE. Contra
indicação: IR grave ou anúria.
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·
Clortalidona
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Genérico:
12,5 - 25 -50mg/cp
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·
Inicio: 12,5 a 25mg/dose/1 tomada dia efeito em 3 a 4
semanas
·
Ajuste: máximo 200mg/dia e 50mg/dose
|
Cefaleia,
vertigem, parestesia. Erupção cutânea, urticária. Impotência, náusea, vômito,
anorexia, diarreia. Hipocalemia.
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IECA
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·
Captopril
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Genérico:
12,5 - 25 -50mg/cp
F.popula:25mg/cp
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·
Inicio: 12,5 a 25mg/dose 2-3 tomadas
·
Ajuste: após 1 a 2 semanas até 50mg/dose 2-3 Max:
150mg/dose 3X dia
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Tosse
seca e continua, dor torácica, hipotensão exagerada, hipotensão postural,
taquicardia, cefaleia, fadiga, insônia.
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·
Enalapril:
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Genérico: (Meleato de Enalapril)
5 - 10 -20mg/cp
F.popula:
10-20mg/cp
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·
Início: 5 a 10mg/dia
e tomada
·
Ajuste: 10 a 40mg/dia
|
Tosse
seca e continua, náusea, diarreia, hipotensão exagerada, hipotensão postural,
contratura muscular, cefaleia, fadiga, insônia, impotência.
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BRA
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·
Losartano
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Genérico: (Losartan Potássico)
12,5
e 50mg/cp
|
·
Início: 50mg/dose 1 tomada
·
Ajuste 25 a 100mg/dia 1 tomada
|
Tontura,
insônia, astenia, cefaleia, fadiga, hipotensão postural, diarreia, náusea,
gastrite, dor abdominal, cãibras, mialgia, celulite, congestão nasal.
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Bloqueadores Canais de Cálcio
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·
Anlodipino
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Genérico: (Besilato de Anlodipino)
5-10-50mg/cp
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·
Inicio: 2,5 a 5 mg/dia 1 tomada
·
Ajuste: Até 10mg/dia
|
Cefaleia,
edema, sonolência, fadiga, artralgia, náusea.
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·
Nifedipina
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Genérico: (Nifedipino)
10 -20mg/cp
F.popula: nifedipino
20mg/cp
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·
Inicio: 10mg/dose X 3 ou 30mg X1
·
Ajuste: 120mg
|
NAUSEA,
HIPOTENSÃO, Rubor.
Contra indicação: Bloqueio AV, pressão < 90mmHg, IAM
recente.
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·
Verapamil
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Genérico: (Cloridrato de verapamil)
80-120-240mg/cp
F.popula: Verapamila
80mg/cp
|
·
Inicio: 80-120mg/doseX3 (antes das refeições)
|
Confusão
mental, convulsões, vertigem, fraqueza, cefaleia, nervosismo, insônia,
espasmo muscular, rubor, constipação, náusea, edema.
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Betabloqueadores
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·
Atenolol
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Genérico: (Atenolol)
25-50-100mg/cp
F.popula: atenolol
25mg/cp
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·
Inicio: 25-50mg/dia 1 tomada
·
Ajuste: máx 100mg/dia
|
Cefaleia,
fadiga, insônia, pesadelos, sonolência, fraqueza, dificuldade de
concentração, extremidades frias.
Contra indicação: Bloqueio AV, ICC descompensada, choque,
bradicardia, asma.
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·
Propranolol
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Genérico: (Cloridrato de propranolol)
10-40-80mg/cp
F.popula: propranolol
40mg/cp
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·
Início: 10-20mg/dose X3-4 e aumentar até no máximo
480mg/dia X3-4
|
ICC,
piora de BAV, prolonga PR, QT, QTc, piora condução AV, bradicardia,
hipotensão, broncoespasmo, disfunção sexual, extremidades frias,
hipoglicemia.
Contra indicação: Bloqueio AV, ICC, choque, IR e IH,
asma, DPOC.
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Medicamentos
2° linha
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Diuréticos
de alça
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Furosemida
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Genérico: (Furosemida)
40mg/cp
F.popula:
40mg/cp
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·
Inicio: 20-40mg/doseX1-2 máx:400mg/dia
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Desidratação,
hipotensão ortostática, Hipopotassemia.
Contra indicação: IR anúrica.
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Vasodilatadores
de ação direta
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Hidralazina
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Apresolina 25-50mg/cp
Nepresol 20mg/cp
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10mg/doseX4
aumentar a cada 2-5 dias em 10/25 mg dia
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Tonteira,
ansiedade, distúrbios do sono, mal estar, febre. Taquicardia,
aneurisma, coronariopatia
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