Pneumonia
João Lage
Definição
clássica de pneumonia: pneumonia
pode ser definida como sinais e sintomas consistentes com infecção de vias
aéreas inferiores associado a novo infiltrado na radiografia de tórax, na
ausência de outra explicação para tal.
·
Pneumonia
adquirida na comunidade (PAC): é aquela que acomete o
paciente fora do ambiente hospitalar ou que surge nas primeiras 48h da
internação hospitalar.
·
Pneumonia
hospitalar (nosocromial):
é definida como aquela que ocorre em até
15 dias após alta hospitalar ou após 48h da internação.
Pneumonia comunitária
Epidemiologia:
No Brasil dados do
DATASUS evidenciam a pneumonia como a maior causa de morte dentre as doenças
respiratórias e ocupa o 4° lugar de mortalidade geral, excluindo-se as causas
externas. Estima-se a incidência mundial em 12 casos por 1000 habitantes/ano.
Etiologia:
na maior parte dos
casos o germe responsável pelo quadro não é identificado. Em 2/3 dos casos o
agente é o pneumococo. Os demais agentes podem estar relacionados com as
características epidemiológicas descritas na tabela a seguir:
Agentes
da pneumonia X características epidemiológicas
|
|
Tabagismo/DPOC
|
H.
influenzae e M. catharrhalis
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Casas
de repouso
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Bacilos
gram-negativos, anaeróbios
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Dentes
em mal estado de conservação
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Bacilos
gram-negativos, anaeróbios
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Bronquiectasias
e fibrose cística
|
Anaeróbios
|
Obstrução
brônquica
|
Anaeróbios
|
Uso
de drogas injetáveis
|
S.
aureus, anaeróbios e pneumococo
|
Alcoolismo
|
Anaeróbios,
pneumococo resistente à penicilina, bacilos gram negativos. Lembrar da
tuberculose
|
Uso
recente de antibiótico de largos espectro
|
Pseudômonas,
bacilos gram negativos e pneumococo resistente à penicilina.
|
Fisiopatologia
Definição Fisiopatologia: por
pneumonia entende-se o quadro de infecção do parênquima pulmonar com expressão
clínica característica. Na doença, bronquíolos respiratórios e alvéolos são
preenchidos por exsudato inflamatório comprometendo a hematose. Qualquer agente
infeccioso – bactérias, vírus, fungos e parasitos – pode provocar pneumonia,
embora a maioria esmagadora sejam as bactérias.
Fatores
contemporâneos que favorecem a pneumonia: 1) uso cada vez mais frequente de antibióticos de largos
espectro favorecendo a seleção bacteriana, 2) procedimentos invasivos que criam
portas de entrada e 3) recorrentes situações de imunossupressão como infecção
por HIV e/ou tratamento de transplantados.
Na pneumonia, antes da infecção
propriamente dita, ocorre a colonização pelas bactérias invasivas. Esta
colonização pode ser de dois tipos: 1) bactérias com alta virulência colonizam
o parênquima pulmonar de indivíduos previamente sãos ou 2) bactérias de baixa a
média virulência colonizam indivíduos imunodeprimidos.
A propensão de infecções bacterianas
pode ser facilitada por: 1) propriedades dos agentes infecciosos, 2) infecção
previa pelo vírus da influenza e 3)
outras doenças do trato respiratório como bronquite.
Classificação da pneumonia de acordo
com a distribuição das lesões:
·
Pneumonia
lobar: o processo inflamatório tem
disseminação relativamente uniforme nos lobos pulmonares, dando ao parênquima
padrão homogêneo de distribuição. O microorganismo mais associado a esta
distribuição é o pneumococo (Streptococcus pneumoniae), agente comum nas PAC.
4 fases da pneumonia
lobar
Fase
1 (inicial ou de congestão): intensa
congestão dos capilares septais, edema. Nesta situação ocorrem poucos NE e
muitas bactérias.
Fase
2 (hepatização vermelha): alvéolos
ficam cheios de fluido, fibrina e bactérias. O lobo adquire consistência firme
semelhantes a do fígado.
Fase
3 (hepatização cinzenta): aumento
das células inflamatórias e fibrina nos alvéolos, ocorre diminuição da
congestão e do número de bactérias. A liberação de grande quantidade de enzimas
pelas células inflamatórias leva a degradação de fibras elásticas da matriz
extracelular tornando o parênquima bastante friável.
Fase
4 (resolução): ocorre
lise da fibrina e redução progressiva do exsudato , permitindo a penetração de
ar nos alvéolos.
Obs. De forma característica na pneumonia
lobar não há destruição das paredes alveolares.
·
Pneumonia
lobular ou broncopneumonia:
apresenta focos inflamatórios múltiplos
pelos lóbulos pulmonares, caracterizando disseminação dos agentes pelas vias
inflamatórias. Acomete principalmente crianças e idosos debilitados.
·
Pneumonia
intersticial: reação inflamatória que afeta
principalmente o interstício pulmonar. Os principais agentes são os vírus.
Quadro
clinico e diagnóstico
Pacientes com pneumonia geralmente se apresentam
com tosse (90%), dispneia (66%), dor pleurítica (50%), taquicardia, alem de
sintomas constitucionais, como queda do estado geral, febre, hiorexia,
adinamia, calafrios e/ou sudorese. Até 20% dos pacientes podem apresentar
náuseas e/ou vômitos e diarreia. Outros sintomas são mialgia, cefaleia e
artralgias. É comum observar tiragem intercostal, aumento da FR, acentuação do
FTV à palpação, e macicez ou submacicez à percussão. A ausculta pode detectar
estertores, sopros brônquicos e possivelmente atrito pleural.
Pneumonia pode ser diagnosticada por
meio dos critérios abaixo:
·
Tosse
+ um ou mais dos seguintes sintomas: expectoração, dispneia e/ou dor torácica.
·
Achados
no exame físico: 1) redução localizada do MV, 2) aumento do FTV, 3) macicez a
percussão, 4) pectorilóquia.
·
Pelo
menos um achado sistêmico: confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, mialgias e
febre
·
Infiltrado
radiológico não presente previamente
·
Exclusão
de outras causas que resultem em achados semelhantes.
Radiografia de tórax: é indispensável tanto para o
diagnóstico como para avaliação de gravidade, bem como para identificar
condições coexistentes como derrame pleural, cavitações, número de lobos
acometidos e obstrução brônquica (complicações); acompanhar a evolução e
reposta ao tratamento. Repetir a radiografia após 6 semanas do início dos
sintomas.
Hemograma: complementa a avaliação clínica, e
pode ser útil na caracterização da gravidade quando há critérios para SIRS
(síndrome da resposta inflamatória sistêmica) no leucograma (>12000)
leucopenia (<4000) ou mais de 10% de formas jovens.
Gasometria arterial: na ausência de doença pulmonar
crônica, a saturação de oxigênio abaixo de 90%, indica maior gravidade
necessitando suplementação de oxigênio. Na persistência de valores baixos
apesar de 4L/min de oxigênio considerar internação e terapia intensiva.
Hemocultura:
o atual consenso
dobre pneumonia recomenda hemocultura em pneumonias graves (CURB-65 ≥ 3 e PORT
≥ IV) e pacientes não respondedores do tratamento clínico inicial.
Estadiamento
para avaliar necessidade de internação
CURB-65
Tratamento
A terapêutica antimicrobiana é
tipicamente iniciada de forma empírica, uma vez que a identificação do germe
responsável não ocorre em grande parte dos casos.
Pacientes ambulatoriais: busca-se
um regime antimicrobiano contra os patógenos mais comuns nessa população (S .
pneumoniae,M. pneumoniae, C. pneumoniae, H. influenzae). De acordo com as
diretrizes um macrolítico (azitromicina, claritromicina) é recomendado como
monoterapia para tratamento de pacientes ambulatoriais previamente sadios.
Macrolídeo associado a beta-lactâmico ou fluoroquinolona sosinha são
recomendados para tratamento inicial empírico de pacientes com comorbidades (DPOC,
diabetes, nefropatias, ICC e neoplasias malignas) porem sem critérios de
internação. Quando houver suspeita de aspiração e infecção por anaeróbio usar
beta-lactâmico associado a inibidor de beta-lactamase. Em caso de alergia a
penicilina usar clindamicina.
Pacientes internados (enfermaria)
(CURB-65 3 e 4): a primeira dose do antibiótico deve
ser feita em por via EV AM até 4h da admissão hospitalar. A recomendação é o
uso de quinolona respiratória (levofloxacino, moxifloxacino ou gatifloxacino)
ou uso isolado ou combinado com macrolídeo dos seguintes medicamentos: beta-lactâmico
associado à beta-lactamase ou cafelasporinas de segunda e terceira geração.
Pacientes internados na UTI: 1)
sem risco para pseudômonas tratamento vide enfermaria, 2) risco para
pseudômonas: uso de agente antipseudomonas + ciprofloxacino OU agente
antipseudomonas + aminoglicosídeo + fluoroquinolona ou macrolídeo.
Prevenção
da PAC
De acordo com a diretriz americana as
seguintes recomendações para prevenção de pneumonia bacteriana na comunidade
devem ser seguidas:
1)
Pessoas
> 50 anos e/ou com risco para complicações relacionadas a influenza, com
contato domiciliar com pessoas de alto risco e profissionais de saúde devem ser
vacinados contra influenza anualmente.
2)
Pessoas
acima de 65 anos e pacientes com comorbidades (doença pulmonar, renal, hepática
ou cardiovascular crônica, DM, etilismo, asplenia, imunossuprimidos) devem
receber vacina antipneumocócica.
Pneumonia hospitalar (nosocomial)
Epidemiologia:
é usualmente causada
por bactérias e está associada à maior morbimortalidade, maiores custos
hospitalares e dias de internação.
O tempo de início da pneumonia a
divide em duas categorias:
1)
Início precoce: primeiros 4 dias de internação –
geralmente com melhor prognóstico e mais provavelmente causada por germes mais
sensíveis aos antibióticos.
2)
Início tardio: mais de 5 dias após internação –
provavelmente relacionada aos patógenos multirresistentes, associada à maior
morbimortalidade.
Etiologia:
mais comumente são
observados bacilos gram-negativos aeróbios (P.
aeruginosa, E. colli, K. pneumoniae) e Acinetobacter spp principalmente na
pneumonia nosocomial de inicio tardio. Quando tem-se pneumonia nosocomial de
inicio precoce tem-se como principais agentes etiológicos S. pneumoniae, M. catarrhalis e H. influenzae.. pneumonia devido a S.
áureus é mais comum em pacientes diabéticos, vitimas de trauma craniano e
internação em UTI.
Diagnóstico:
de acordo com o Centers for disease Control and Prevention os
seguintes critérios na tabela são utilizados para o diagnóstico de pneumonia hospitalar:
Centers
for disease Control and Prevention – Diagnóstico de
pneumonia hospitalar
|
|
Radiografia tórax (pelo
menos uma das seguintes alterações) e...
|
a) Novo
ou progressivo e persistente infiltrado
b) Consolidação
c) Cavitação
|
Pelo
menos uma das seguintes alterações clínicas, e...
|
a) Febre
> 38° sem outra causa relacionada
b) Leucopenia
< 4000 GB ou leucocitose ( ≥12000 GB)
c) Alteração
do nível de consciência em pacientes > 70 anos sem outro fator relacionado
|
Pelo
menos dois dos seguintes critérios
|
a) Início de secreção purulenta,
alteração na característica da expectoração ou aumento na quantidade da
secreção respiratória ou na necessidade de aspiração
b) Início ou piora da tosse,
dispnéia ou taquipnéia
c) Ausculta pulmonar compatível
d) Piora da troca gasosa (PaO2/FiO2≤240,
aumento da necessidade de oxigênio ou necessidade de ventilação não invasiva)
|
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Referências Bibliográficas?
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