Úlcera péptica gastroduodenal e Semiologia
gastroduodenal
Conceitos
Úlceras
pépticas: constituem
soluções de continuidade da mucosa gastrointestinal secundárias ao efeito
corrosivo do ácido clorídrico (HCl) e da pepsina, entendendo-se através da
muscular da mucosa, atingindo a submucosa e até mesmo chegando à muscular
própria composta por muscular obliqua, circular e longitudinal. As camadas
podem ser vislumbradas na figura a seguir.
A úlceras podem se desenvolver em
qualquer parte do trato digestório porem o nome “úlcera péptica” refere-se
habitualmente a região gastroduodenal.
Epidemiologia
A prevalência da úlcera péptica é
variável nas diferentes regiões do mundo. As úlceras duodenais predominam em
populações ocidentais, enquanto que as gástricas são mais frequentes nas Ásia,
em especial no Japão.
A úlcera duodenal é cinco vezes mais
frequente que a úlcera gástrica e tem incidência na faixa etária de 30 a 55
anos. No caso do estômago as úlceras acometem principalmente a região do antro,
sendo 80% na pequena curvatura. De um modo geral as úlceras acometem
principalmente homens.
O declínio da prevalência da úlcera
péptica tem sido associado à redução da infecção pelo H. pylori uma vez que os países tem melhorados suas condições de
higiene sanitária. No entanto, existem cepas mais virulentas do H. pylori que podem continuar a causar
úlceras nestas populações.
A redução das complicações da úlcera,
ou seja, hemorragias e perfurações não apresentou declínio e estes dados podem
ser associados ao aumento no uso de AINE principalmente pela população idosa.
O sangramento é a complicação mais
frequente da doença ulcerosa péptica, ocorrendo em 15 a 20% dos casos, em sua
maioria associados a úlceras duodenais e com taxa de mortalidade de 5 a 10%.
A causa mais comum de hemorragia
digestiva alta e a doença ulcerosa péptica representado em torno de 50% dos
casos.
As perfurações correspondem as
complicações com pior prognóstico sendo observadas em 5% dos pacientes e sendo
responsáveis por 2/3 dos óbitos. Ocorrem mais frequentemente da na pequena
curvatura gástrica e na parede anterior do bulbo duodenal. As úlceras gástricas
perfurada são, com certa frequência, bloqueadas pelo lobo hepático esquerdo e
as duodenais pelo pâncreas e, raramente pelo cólon.
Estreitamento e estenose são
observados em até 2% dos casos, comumente relacionadas a úlceras do canal
pilórico mas também podem ocorrer como complicações de úlceras duodenais.
Revisão da fisiologia da secreção
gástrica
Mecanismo
básicos de estimulação da secreção
·
Contato do alimento com o epitélio: pode estimular a secreção por três
mecanismos os quais todos ativam o sistema nervoso entérico: 1) estimulação
tátil, 2) irritação química e 3) distensão da parede do trato gastrointestinal.
·
Estimulação parassimpática: aumenta a secreção.
·
Estimulação simpática: inicialmente aumenta a secreção pelas
glândulas, porem logo em seguida, por causar vasoconstrição, diminuí a secreção.
·
Hormônios: vários hormônios são liberados pela
mucosa gastrointestinal diante da presença de alimentos. Estes são então transportados pelo sangue até as glândulas onde
induziram a secreção de suco gástrico.
Secreção
gástrica
Alem das células produtoras de muco a
mucosa gástrica é composta por dois tipos básicos de glândulas tubulares: 1)
oxínticas e 2) pilóricas. As primeiras localizam-se no corpo e fundo gástrico e
as segundas no antro.
Glândulas oxínticas: são
compostas por: 1) células mucosas do pescoço que secretam muco, 2)células
pépticas ou principais que secretam pepsinogênio e 3) células parietais ou
oxinticas que secretam HCl e fator intrínseco.
Glândulas pilóricas: produzem
basicamente muco e gastrina. Esta ultima é produzida por células G.
Estimulação
da secreção ácida
A estimulação das células parietais
para produzir e secretar HCl é feita basicamente por dois mecanismo: 1)
estimulação da produção de histamina pelas células semelhantes às enterocromafins
(ECL) feita através da gastrina liberada pelas células G do antro e 2)
estimulação colinérgica pelo sistema nervoso entérico a partir das terminações
vagais.
A chegada de alimentos proteicos no
antro do estomago induz a liberação de GRP que estimula a produção de gastrina
pelas células G, que diante do intenso processo de mistura que ocorre no
estômago será levada até as ECL estimulando a liberação de histamina que irá,
por sua vez, estimular a liberação de HCL pelas células parietais.
Regulação
da secreção de pepsinogênio
A regulação da secreção de
pepsinogênio pelas células pépticas nas glândulas oxinticas é feita através de
dois mecanismos: 1) estimulação pela acetilcolina através do plexo nervoso
gastroentérico e 2) estimulação pelo HCL sendo que este induz reflexos nervosos
entéricos que amplificam os sinais nervosos para as células pépticas.
Fases
da secreção gástrica
·
Cefálica: ocorre até mesmo antes do alimento
entrar no estômago. Resulta da visão, odor, lembrança, sabor e apetite.sinais
neurogênicos originam-se no córtex cerebral e nos centros do apetite da
amígdala e do hipotálamo. São transmitidos pelos nervos vagos até o estômago.
Contribui com 20% da secreção gástrica.
·
Gástrica: o alimento que entra no estômago
excita: 1)os reflexos vagais longos do estômago, 2) reflexos entéricos locais e
3) mecanismo da gastrina. Contribui com 70% da secreção gástrica.
·
Intestinal: a presença de alimento na porção
superior do duodeno, continuará a causar secreção estomacal de pequenas quantidades
de suco gástrico, provavelmente devido a pequenas quantidades de gastrina
liberadas pela mucosa duodenal.
Inibição
da secreção gástrica
·
Presença
de alimento no intestino delgado inicia um reflexo enterogástrico reverso
transmitido através do sistema nervoso mioentérico, bem como através dos nervos
vagos e simpáticos extrínsecos, inibindo a secreção estomacal. Este reflexo
pode ser iniciado por: 1) distensão da parede do intestino delgado, 2)pela
presença de ácido no intestino superior, pela presença de produtos da hidrólise
de proteínas ou 4) pela irritação da mucosa.
·
Presença
de ácidos, gorduras, produtos da quebra de proteínas, líquidos hiper e hiposmóticos
ou qualquer fator irritante que chegue ao intestino delgado causa a liberação
de hormônios intestinais. Um deles é a secretina que inibe a secreção gástrica
de HCl.
·
A
queda do pH intraluminal se difunde e ocupa o receptor da célula D, produtora
de somatostatina que possuí ação inibitória (via parácrina) sobre a célula G,
portanto inibindo a liberação de gastrina.
Fisiopatologia
A secreção de ácido de um indivíduo
varia na dependência de vários fatores ambientais. A alimentação, o uso de
determinados medicamentos, tabagismo, estado emocional influenciam a produção
de ácido nas 24h.
A produção de ácido está em geral
aumentada na ulcera duodenal e norma ou baixa nos indivíduos com úlcera
gástrica. O aumento da secreção ácida pode ser explicado pelas seguintes
observações:
·
Aumento
da população de células parietais
·
Maior
sensibilidade da célula parietal ao estímulo da gastrina
·
Menor
sensibilidade da célula G aos mecanismos inibitórios.
Em pacientes H. pylori positivos os distúrbios citados acima estão evidentes.
Alem de que nestes pacientes a resposta exagerada da gastrina pode resultar
também da menor produção de somatostatina, hormônio que inibe a célula G.
Alem da maior produção de ácido
ocorrerá maior produção e liberação de pepsinogênio, bem como, seleção das
frações 1 e 3 desta enzima que apresentam maior atividade proteolítica.
Alem da exarcebação de mecanismos
agressores (ácido e pepsinogênio) teremos a inibição de mecanismos de defesa e
de reparação. Dentre os mecanismos de defesa devemos citar a redução das PGL na
presença de H. pylori . A PGL é
responsável por induzir a produção de muco e carboidrato, induzir a produção de
surfactante, regular o fluxo sanguíneo local e a capacidade de replicação do
epitélio.
A reparação do epitélio por sua vez
estará comprometida pela redução do fator de crescimento epitelial (EGF).
Na úlcera duodenal o acometimento é
geralmente do antro gástrico, o que faz com que haja uma hipergastrinemia com
consequente aumento na produção ácida pelas células parietais que é ofertado ao
bulbo duodenal gerando algumas vezes metaplasia gástrica no bulbo. Os locais
com metaplasia gástrica poderão então ser colonizados pelo H. pylori evoluindo com inflamação tornando-se mais susceptível a
agressão acidopeptica podendo chegar à úlcera.
Os esforços na tentativa de erradicar
o H. pylori tendem a nos remeter a
quadros de úlceras pépticas associadas principalmente ao uso de AINE´s ou
secundárias a doenças raras como a doença de Crohn.
Fisiopatologia da lesão induzida por
AINE: baseia-se
na supressão de PGL. O mecanismo envolvido nessa situação indica a agressão de
células endoteliais da mucosa gástrica
diminuindo o fluxo sanguíneo gástrico efetivo bem como a redução na
produção de muco e o comprometimento da migração epitelial de células
adjacentes à área lesada. Dessa forma a mucosa fica menos protegida e mais
susceptível a agressão.
São consideradas situações de risco em
usuários de AINE:
Antecedente
de úlcera
|
Idade
avançada > 60 anos
|
Presença
de comorbidades
|
Uso
de altas doses de AINE
|
Associação
com corticoides, AAS ou anticoagulantes
|
Infecção
pelo H. pylori
|
Quadro clínico
Os sintomas referidos pelos pacientes
não permitem diferenciar úlcera duodenal (UD) e úlcera gástrica (UG) e, algumas
vezes, são muito discretos, atípicos ou ausentes. Quando presente, a dor é habitualmente
pouca intensa, em queimação, localizada no epigástrio, descrita como “dor de
fome”, queimadura ou desconforto na boca do estômago. A dor mantém-se por
semanas de forma rítmica.A dor melhora com a alimentação principalmente no caso
de UD. Em pacientes com UG, a ingestão de alimentos piora ou desencadeia o
sintoma.
Outra característica da dor da úlcera
péptica é a periodicidade: períodos de acalmia (desaparecimento da dor por
meses ou até mesmo anos) intercalados por outros sintomáticos. O fato do
paciente despertar no meio da noite por conta da úlcera (clocking) é sugestivo de úlcera principalmente UD em virtude de sua
associação com RGE.
Outros sintomas não próprios da úlcera
péptica mas que podem estar associados são: eructação, flatulência, sialorreia,
náuseas, vômitos.
O exame físico nada acrescenta a
exceção de presença de complicações: hemorragia, perfuração ou estenose. Na
dependência das complicações podem ser observados: hematêmese, melena, sangue
oculto nas fezes, náuseas, vômitos, distensão abdominal, sinais de peritonite
ou instabilidade hemodinâmica.
Quadro clínico da
doença ulcerosa péptica
|
Não complicada
|
-
Dor epigástrica em queimação
|
Ulcera
duodenal
|
-
melhora com alimentação
|
-hiperfagia
e ganho ponderal
|
-despertar
noturno pela dor é frequente
|
-apresentação
pode ser periódica
|
Ulcera
gástrica
|
-pequena
melhora ou piora com as refeições
|
-menos
responsiva a antiácidos
|
-anorexia
e perda ponderal
|
-pode
ocorrer despertar noturno
|
Complicada
(hemorragia, perfuração e estenose)
|
-Melena
|
-hematêmese
|
-náuseas
e vômitos
|
-distensão
abdominal
|
-sinais
de peritonismo
|
-instabilidade
hemodinâmica
|
Diagnóstico e exames complementares
EDA:
continua sendo o
diagnóstico de eleição para o diagnóstico de lesões ulcerosas. Este método não
só determina o diagnóstico de úlcera, mas também determina a sua natureza e
permite a definição da sua etiologia. É importante realizar a biopsia no borda
das lesões para exame histológico e do antro e/ou corpo para identificação de H. pylori.
Quanto a obtenção de biopsias, estas
devem ser criteriosas coletando na margem interna da lesão, nos quatro
quadrantes e em áreas não necróticas. A quantidade de fragmentos deve ser
proporcional ao tamanho da úlcera, porem no mínimo 6 fragmentos devem ser coletados.
No caso de UG deve-se realizar novo
exame endoscópico após 6 a 8 semanas de tratamento para avaliar sua
cicatrização e coletar novas biopsias. Se o estudo histológico for negativo
para malignidade e houver redução significativa do tamanho da úlcera (acima de
50% do tamanho inicial), o prazo de tratamento com a mesma droga poderá ser
prolongado, seguindo-se nova avaliação após esse prazo. Se a redução não for
significativa (abaixo de 50 % da inicial) outro medicamento ou aumento de dose
devem ser aplicados por mais 45 dias, recomendando-se obter controle
endoscópico periódico até a cicatrização.
Biópsias não são obtidas rotineiramente
de úlceras duodenais uma vez que raramente são malignas.
Exame
radiológico contrastado: é
menos preciso que a EDA e por isso menos utilizado do que ela. Tem como
desvantagem o uso de radiação ionizante e a necessidade de realizar biopsia por
outros meios. Portanto, só é indicado em caso em situações em que o exame
endoscópico não está disponível ou quando há indicação cirúrgica.
Gastrina:
pacientes que
apresentarem quadros clínicos atípicos, como, por exemplo, múltiplas úlceras
gastroduodenais, úlceras refratárias, recorrentes ou localizadas na segunda
porção duodenal e não associadas a H.
pylori e AINE, úlceras recorrentes pós-operatórias, associação com diarreia
ou calculo renal e HF de tumor de hipófise ou paratireoide, justifica-se a
pesquisa de gastrinoma (síndrome de Zollinger-Ellison). A dosagem de gastrina
sérica configura o teste mais sensível para diagnóstico. A concentração sérica
acima de 1000pg/ml e hipersecreção ácida de ácido tem estabelecido o
diagnóstico de gastrinoma.
Testes
para diagnóstico etiológico
a) Helicobacter pylori:
os testes para
identificação da bactéria são uteis para direcionar o tratamento e evitar a
antibioticoterapia desnecessária. É necessário lembrar, porém, que podem
ocorrer resultados falso-negativos em pacientes que receberam tratamento com IBP,
bismuto ou antibióticos, os quais podem suprimir temporariamente a bactéria. Os
testes podem ser subdivididos em: 1) invasivos (endoscópicos) e 2) não
invasivos (não endoscópicos).
Ø Invasivos
o Histologia: possui boa sensibilidade e
especificidade – padrão-ouro para diagnóstico na rotina hospitalar. Deve
incluir a coleta de 5 fragmentos: dois do antro, dois do corpo e um da incisura
angular.
o Cultura: excelente especificidade. Padrão ouro
alternativo
o Urease: 90% de sensibilidade e especificidade
– teste rápido com boa relação custo-benefício. A coleta deverá ser realizada
em corpo e antro. Exige teste adicional para confirmação do diagnóstico.
Ø Não-invasivos
o Sorológico: mais utilizado em estudos
epidemiológicos.Geralmente o IgG está aumentado em indivíduos contaminados.
o Testes respiratórios com ureia marcada: quando positivo sempre indica
infecção atual. Configura como padrão-ouro alternativo. Pode indicar cura pelo H. pylori 8 semanas após a terapia
antibiótica. Neste teste o paciente ingere ureia marcada com carbono 13. Se o
microorganismo estiver presente a ureia será convertida em amônia e CO2
marcado. Este pode ser detectado após 30 minutos em um balão de coleta.
o Pesquisa do antígeno fecal: método que identifica através de
reação imunoenzimática, antígenos do H.
pylori nas fezes do paciente. É conveniente na população pediátrica.
Obs. O
teste respiratório tem sido utilizado no controle do tratamento após 8 semanas
do início do mesmo.
Obs.
Recomenda-se a utilização de, ao menos, dois testes: histologia, teste da
uréase ou cultura.
b)
Drogas AINE: deve ser pesquisado na anamnese o uso
de AINE principalmente na população idosa que costuma usar estas drogas por
conta de artrites, artroses dentre outras. Cardiopatas costumam utilizar Aas o
que pode contribuir para úlcera.
Tratamento
Objetivos:
alívio dos sintomas,
cicatrização das lesões e prevenção de recidivas e complicações. Alem disso,
caso o H pylori esteja presente é
necessário erradica-lo sendo esta uma medida que previne recidivas.
Medidas
comportamentais: evitar
alimentos muito proteicos. Evitar etilismo. Evitar tabagismo. Evitar alimento
que irritem a mucosa gástrica.
Medicações
que promovem a cicatrização: agem
de duas formas: 1) fortalecendo os componentes que mantém a integridade da
mucosa gastroduodenal (pró-secretores) e diminuindo a ação cloridropéptica
(antissecretores).
Ø Pró-secretores:
antiácidos,
sucralfato, sais de bismuto coloidal, e PGL. Tem pouca utilização clínica.
Ø Antissecretores:
são os medicamentos
de escolha para cicatrizar as úlceras: IBP e BH2.
Erradicação
do H. pylori
Gastrite
Classificação
1)
Gastrites agudas: embora raramente observadas em
biopsias gástricas de rotina, as gastrites agudas são classificadas em três grupos: gastrite aguda por H. pylori, supurativa (flegmonosa) e
gastrite aguda hemorrágica (erosiva aguda).
a) Gastrite
aguda por H.
pylori: adquirido por via oral, o
microorganismo penetra na camada de muco e se multiplica em contato íntimo com
as células epiteliais do estômago. As bactérias liberam agentes quimiotáticos
para polimorfonucleares e mastócitos. O epitélio gástrico produz IL-8 que é potencializado
pelo fator de necrose tumoral e pela IL-1 liberada pelos macrófagos em resposta
lipolissacaríde bacteriana. Ocorrerá acentuada hipocloridria.
Esta fase
aguda é de curta duração, a resposta imune na maioria das vezes é incapaz de
eliminar a bactéria, e após 3 a 4 semanas ocorre um gradual aumento das células
inflamatórias crônicas.
Formas de transmissão pelo H.pylori
|
|
Oral
– oral
|
Saliva/beijo
|
Oral
– fecal
|
Manuseio de alimentos água não
tratada
|
Gastro
– oral
|
Vômito
|
b)
Gastrite supurativa (flegmonosa): é uma entidade rara, às vezes também
presente em pacientes pediátricos, que caracteriza-se por infecção bacteriana
da muscular da mucosa e submucosa do estômago, com infiltração de células
plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares.
Na maioria dos casos descritos não ultrapassa cárdia e piloro, sendo a
mucosa gástrica pouco acometida. O
principal causador é o Streptococcus. A evolução clínica é rápida, com dor
epigástrica, náuseas e vômitos purulentos, constituindo sintomas comumente
observados. A visualização de gás sugere Clostridium
welchii. Leucocitose com desvio para esquerda é quase sempre descrita.
c)
Gastrite aguda hemorrágica (lesão
aguda da mucosa gastroduodenal (LAMGD): iniciam-se após grandes traumas ou doenças sistêmicas
graves e acometem as regiões proximais do estômago. Ocasionalmente podem também
envolver o antro gástrico, duodeno ou esôfago distal. São caracterizadas por
múltiplas lesões hemorrágicas, puntiformes associadas a alterações da
superfície epitelial e edema. Pode exteriorizar-se na forma de HDA.
2) Gastrite
crônica: pode ser não
atrófica (associada ao H. pylori) e atrófica (autoimune).
a) Gastrite
crônica associada ao H.pylori: é
considerado a principal etiologia (95%) de todas as gastrites crônicas.
Coloniza a mucosa gástrica humana com mínima competição por parte de outros
microorganismos e adapta-se ao ambiente. Esta adaptação é possível devido a: 1)
produção uréase pela bactéria que degrada a ureia e produz amônia elevando o pH
ao seu redor, 2) por ter caráter espiralado e flagelos pode penetrar no muco se
protegendo do ácido.
O antro é
tipicamente a primeira região a ser atingida, podendo as vezes predominar o
acometimento do corpo ou de todo o órgão (pangastrite). Assim indivíduos:
·
Gastrite
predominantemente antral: normocloridria ou hipercloridria – risco para úlcera
duodenal
·
Gastrite
predominante em corpo: hipocloridria com possível atrofia e metaplasia
intestinal.
b) Gastrite
crônica autoimune: acomete
principalmente o corpo e fundo gástrico, raramente atingindo o antro.
Caracteriza-se por atrofia seletiva, parcial ou completa, das glândulas
gástricas no corpo e fundo do estômago ocorrendo substituição por células
intestinais (metaplasia intestinal).
Funcionalmente
associa-se a hipocloridria e em casos avançados acloridria, secundária à redução
da massa de células parietais, paralelamente há também uma redução da secreção
de fator intrínseco responsável pela absorção de vitamina B12 com
aparecimento de anemia perniciosa.
Semiologia gastroduodenal
Anamnese
As sensações referidas no andar
superior do abdômen e, especificamente no epigástrio podem resultar tanto de
afecções gastroduodenais como também de outros órgãos do aparelho digestivo ou
mesmo de afecções extradigestivas.
Dispepsia:
é definida como a
presença de dor e/ou desconforto, persistente ou recorrente, localizada no
andar superior do abdômen (epigástrio). Pode ser funcional ou orgânica. No
primeiro causa nenhuma causa consegue ser atribuída para explicar a dispepsia e
no segundo consegue-se estabelecer uma causa, por exemplo, úlcera péptica.
Dor:
é um dos sintomas
mais importantes e frequentes das doenças digestivas. Deve ser caracterizado
com relação a: localização, caráter e relações temporais. A dor localizada no
epigástrio geralmente tem as seguintes origens: 1)gástrica, 2) duodenal, 3)
biliar ou 4) pancreática.
A dor epigástrica mais comum é devido
a úlcera péptica. A dor típica da úlcera apresenta quatro características
principais que incluem: localização, ritmicidade, a periodicidade.
O tipo característico é uma dor
discreta, raramente intensa, em queimação, e descrita como dor de fome,
sensação de roedura, de queimadura ou de vazio no estômago. Na maioria das
vezes é localizada no epigástrio, na linha mediana ou ligeiramente para
direita. É circunscrita sendo bem localizada pelo paciente. Outras vezes pode
não ser tão bem localizada sendo referida como uma dor difusa no epigástrio, na
região inferior do tórax, na região interescapular, entre o quinto e oitavo
segmento torácico, ou na região periumbilical.
A dor também apresenta uma ritimicidade
característica tendo horário certo para chegar. Geralmente chega as 10 horas,
entre 15 e 17 horas ou pela madrugada em torno de 2 a 3h (clocking).
Geralmente a dor é aliviada pela
ingestão de alimentos ou antiácidos, ou mesmo pela ocorrência espontânea ou
provocada de vômitos.
Outra peculiaridade marcante da dor é
sua periodicidade. Após dias, semanas ou mesmo alguns meses de dor surgem períodos
de acalmia, desaparecendo por semanas, meses ou anos para retornar com as
mesmas características.
Quando ocorrem complicações da úlcera os
sintomas pioram não melhorando com a ingestão de alimentos, antiácidos ou após
vômitos. Alem disso, perde sua ritimicidade e periodicidade.
Pirose
e regurgitação ácida: representam
a sensação de queimação retroesternal e a volta de alimentos previamente
deglutidos a boca.
A pirose corresponde a queimação
retroesternal que pode irradias para o pescoço e raramente para o braço. É
patognomônica da DRGE, mas pode ocorrer em pacientes que apresentam úlcera
duodenal e em alguns casos de gastrite aguda. O termo azia é frequentemente
empregado como sinônimo de pirose.
Náusea
e vômitos: a náusea
corresponde a uma sensação desagradável, referida no epigástrico ou na garganta,
de um desejo eminente de vomitar. Quando intensa pode associar-se a distúrbios
da atividade autonômica, como sialorréia, palidez, sudorese e ocasionalmente hipotensão e bradicardia. A náusea é
resultante de uma atividade desordenada do trata digestivo superior e uma
antiperistalse do duodeno.
Os vômitos constituem a expulsão
violenta dos conteúdos gástricos e devem ser diferenciados de ruminação,
eructação e regurgitação, sendo que nestas três situações não ocorrem náuseas
nem contração abdominal.
·
Vômito
em jato repentino não precedido de náusea: indicativo de doença do SNC, sobretudo sobre a existência
de hipertensão craniana.
·
Vomito
de origem psicogênica:associa-se
geralmente a anorexia e/ou bulimia alem de ser recorrente.
·
Vomito
que ocorre pela manhã:
típico de gravidez, mas também pode estar associado a ingestão de álcool,
uremia e hipertensão craniana.
·
Vomito
volumoso contendo alimento digerido:
sugere comprometimento do esvaziamento gástrico.
·
Vomito
que ocorre tardiamente a alimentação (4 h ou mais) e que acompanha alívio da
dor: sugere obstrução
do piloro.
·
Vômitos
de alimentos não digeridos e ruídos no pescoço: sugerem divertículo de Zenker.
·
Vômitos
com odor fétido:
sugerem supercrescimento bacteriano típico da obstrução vasointestinal ou na
fístula gastrocólica.
Peso
epigástrico pós-prandial: corresponde
a sensação desagradável de enchimento excessivo do abdômen superior que se
acentua após as refeições. É também chamado de empachamento ou plenitude. É
comum no Ca gástrico e dispepsia funcional. Distúrbios da motilidade estomacal
podem gerar o distúrbio. Estes distúrbios da motilidade podem ocorrer em
pacientes: diabéticos, chagas e hipotireoidismo.
Pode estar presente na complicação da
úlcera péptica na forma de estenose da região antropilórica. É também uma
queixa de pacientes com visceromegalias ou tumores intra-abdominais que
comprimem o estômago.
Saciedade
precoce: redução da
sensação de apetite e de fome logo após iniciar a refeição. Pode ocorrer em
doenças de motilidade, por doenças sistêmicas, pelo uso de medicamentos e por
fatores emocionais.
Flatulência:
é caracterizada por
sintomas de distensão, plenitude e
timpanismo abdominal.
Soluços:
é uma manifestação
reflexa decorrente de uma contração rápida e involuntária do diafragma, que
produz respiração interrompida pelo fechamento da glote. Pode estar nas
seguintes afecções digestivas: hérnia de hiato, abscesso subfrênico, infarto
esplênico, pancreatite aguda, obstrução intestinal e na presença de lesões
expansivas do fígado.
Hematêmese
e melena: a
hemorragia digestiva alta é referida como qualquer sangramento acima do
ligamento de Treitz, podendo se exteriorizar através de hematêmese, melena,
hematoquezia ou sangue oculto nas fezes.
Hematêmese é o termo utilizado para
referir-se a vômito de sangue. Pode ser vermelha sugerindo sangramento recente,
ou escura, resultante de sua conversão de hematina no estômago diante do HCl.
Melena é o termo utilizado para
evacuação de fezes escuras, negaras contendo sangue digerido. Nesse caso é
necessário a retenção de sangue no trato digestivo por no mínimo 8h.
As principais causas de hemorragia
digestiva alta são: úlcera péptica, lesão aguda da mucosa gastroduodenal,
varizes esofagianas e de fundo gástrico, síndrome de Mallory-Weiss, câncer
gástrico, esofagite e duodenite.
Ótimo material. 👏🏼👏🏼👏🏼
ResponderExcluirmuito bom
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